A chuva sem trégua e a estrada inundada em vários trechos não foram obstáculos para os integrantes de uma força - tarefa focada em promover a cidadania de moradores de um dos locais mais atingidos pela enchente em Pelotas - a Colônia de Pescadores Z-3. Entre juízes, promotores de justiça, defensores públicos, oficiais e técnicos judiciários, militares, funcionários de cartórios, assistentes sociais, servidores municipais, conselheiros tutelares, o projeto de extensão Direito na Rua, do curso de Direito da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) também atuou no mutirão judiciário.
Em barracas montadas em frente à Associação dos Pescadores, os voluntários fizeram atendimentos de homens e mulheres abrigados no salão paroquial da comunidade. Entre os serviços prestados, o destaque foi o preenchimento da ficha para o Cadastro Único (CadÚnico), que irá garantir o pagamento de benefícios aos atingidos pela cheia, além da entrega de donativos como agasalhos, alimentos e até eletrodomésticos. Segundo um dos coordenadores da ação, o juiz de Direito e professor da UCPel, Marcelo Malizia Cabral, a proposta é “ levar direitos às pessoas, para que recomecem suas vidas”.
Com a ficha na mão, pescadora há mais de 25 anos, Claudia Rodrigues, não conteve o choro ao contar como tem feito para não deixar a casa da família. "Estamos dormindo no nosso barco, que está ancorado em frente. Perdemos a peixaria, tudo está debaixo d´água, então colocamos lonas para nos proteger e ficarmos no barco à noite. É muito triste”, relata a mulher que pretende fazer o CadÚnico para garantir alguma renda em um ano em que não houve o pescado da Z-3, a safra de camarão.
Direito na Colônia de Pescadores
O projeto Direito na Rua da UCPel, como já é tradicional, atendeu moradores com dificuldade de acesso a direitos por estarem isolados pela cheia. “ Nós viemos aqui esclarecer dúvidas jurídicas, das mais diferentes áreas, e se for o caso, fazer as triagens para o ajuizamento da ação junto ao nosso Serviço de Assistência Jurídica (SAJ)”, explica a coordenadora do projeto de extensão e professora do curso de Direito, Ana Paula Dittgen da Silva.
A dona de casa Vitória Redu foi uma das atendidas pelo Direito na Rua. Grávida, procurou ajuda para ter acesso a um medicamento injetável, importante para a gestação. Devido a enchente o medicamento não chegou até à comunidade de pescadores, mas depois do atendimento, ficou esperançosa em receber nos próximos dias. “Não tem como sair daqui de dentro, quando conseguem vir aqui nos dar um auxílio, a gente até agradece”.
A proposta do projeto Direito na Rua é permanecer realizando ações nos abrigos da cidade nas próximas semanas, independente de outras atividades de voluntariado.
Redação Alessandra Senna