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[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
16.09.2015 | 16:50
[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
A Capelania permanece com seu olhar voltado às migrações.
Primeiramente, apresentamos a reflexão do rabino Jonathan Sacks sobre a crise dos refugiados, publicado pelo Site Lubavitchas. Em seguida, oferecemos uma entrevista do Papa Francisco à Rádio Renascença,publicada pela Agência Ecclesia, onde afirma que a Europa deve acolher os refugiados que chegam às suas fronteiras e promover soluções para as “causas” desta situação, na sua origem. Por último, disponibilizamos uma notícia da Agência Brasil/EBC pelo correspondente Leandra Felipe sobre o pedido da ONU por uma política integrada para migrações.

Os textos dialogam com os eixos do projeto “Igreja e Sociedade” e “Direitos Humanos; Opção pelos Pobres; questão social”. 

Boa leitura.

A crise dos Refugiados
 Reflexão de um rabino

Crise de refugiados: \'Amai o estrangeiro, porque fostes estrangeiros...\'. 
Jonathan Sacks 

O mundo tem uma oportunidade única para mostrar que os ideais pelos quais a União Europeia se formou ainda são convincentes, compassivos e humanos.

Jonathan Sacks: "Mesmo pequenos gestos humanitários podem perfurar a escuridão e acender uma chama de esperança." 

Domingo 06 de setembro de 2015 00.03 BST Última modificação no domingo 06 de setembro de 2015 17.05 BST

Você teria que ser menos que humano para não ficar comovido pelas imagens da crise de refugiados ameaçando devastar a Europa: as cenas em Budapeste, os 71 corpos encontrados no caminhão abandonado na Áustria, as 200 pessoas que se afogaram quando seu barco virou na costa na Líbia e, mais comovente de todas, o corpo de Aylan Kurdi, três anos de idade, sem vida em uma costa turca: uma imagem que vai permanecer muito tempo na mente como um símbolo de um mundo enlouquecido.

Este é o maior desafio humanitário enfrentado pela Europa em décadas. Angela Merkel não estava errada quando disse: "Se a Europa falhar na questão dos refugiados, a sua estreita ligação com os direitos civis universais será destruída."

Crise de refugiados: o que você pode fazer para ajudar?
O afluxo de refugiados pressionando enormemente partes da Europa é uma crise gigantesca, mas é justamente nessas ocasiões que vale a pena lembrar que o ideograma chinês para "crise" também significa "oportunidade". Agora é uma oportunidade única para mostrar que os ideais pelos quais a União Europeia e outras entidades internacionais, como as Nações Unidas, foram formadas ainda são convincentes, compassivos e humanos.

Muitas das convenções e protocolos que estabelecem os direitos legais para os refugiados surgiu no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, assim como a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Um dos momentos sombrios nesta história ocorreu em julho de 1938, quando representantes de 32 países reuniram-se na cidade termal francesa de Evian para discutir o desastre humanitário que todo mundo sabia que estava prestes a se abater sobre os judeus da Europa onde quer que a Alemanha de Hitler estendesse seu domínio. Judeus estavam desesperados para sair. Eles sabiam que suas vidas estavam em risco e assim também o sabiam os políticos e agências de ajuda humanitária na conferência. No entanto, país após país fechou suas portas. Nação após nação disse efetivamente que aquilo não era problema seu.

Nesses momentos, até mesmo pequenos gestos humanitários podem acender uma chama de esperança. Isso é o que aconteceu no Kindertransport, a iniciativa que resgatou 10.000 crianças judias da Alemanha nazista. Meio século mais tarde, vim a conhecer muitos dos que haviam sido resgatados. Eles adoraram a Grã-Bretanha e procuraram com afinco contribuir para ela. Eu e muitos outros judeus da minha geração crescemos com esse amor, sabendo que sem a vontade da Grã-Bretanha para prover refúgio aos nossos pais e avós, eles teriam morrido e nós não teríamos sequer nascido. Sempre que a história humana for recontada, esses atos de humanitarismo vão permanecer como um triunfo do espírito sobre a conveniência política e indiferença moral.

Sessenta anos depois do Kindertransport, foi realizada uma reunião em Londres com mais de 1.000 dos que haviam sido resgatados. Foi um dia muito emotivo, enquanto um após outro contou sua história. Mas o discurso que nos levou todos às lágrimas não foi o de nenhuma das crianças resgatadas, mas foi o do falecido Lord Attenborough, cuja família estava entre os resgatadores.

Ele contou como seus pais chamaram seus três filhos e disseram-lhes que queriam adotar duas jovens judias da Alemanha, Helga e Irene. Eles explicaram os sacrifícios que todos teríamos que fazer. Eles agora seria uma família de sete, em vez de cinco, o que significava que eles teriam de compartilhar mais amplamente, e isso, eles falaram, incluía o seu amor, porque "você têm a nós, mas elas não têm ninguém". Os garotos concordaram e as duas meninas passaram a fazer parte de sua família. Quando contou esta história, Lord Attenborough chorou e disse que foi o dia mais importante de sua vida. De repente, percebemos que são os sacrifícios que fazemos em prol de ideais elevados que nos fazem grandes e isto se aplica às nações, bem como a indivíduos.

Mesmo no melhor cenário, a Europa sozinha não pode resolver os problemas dos quais os refugiados são vítimas. Os conflitos que trouxeram o caos para o Oriente Médio continuam a desafiar qualquer solução óbvia. Cada opção que tem sido experimentada pareceu falhar: intervenção militar no Afeganistão e no Iraque, zonas de exclusão aérea na Líbia e não-intervenção na Síria. Nenhuma extinguiu os fogos ardentes de agitação, da discórdia religiosa e étnica e da guerra civil. É muito fácil dizer que este não é o nosso problema e, além disso, está acontecendo muito longe.

No entanto, nada em nosso mundo interligado está a um longo caminho de distância. Tudo o que poderia ser globalizado, efetivamente é globalizado, do terror ao extremismo religioso até sites que pregam paranoia e ódio. Nunca antes as palavras de John Donne ressoaram mais verdadeiras: "A morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade." Por isso, "não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti".

Uma resposta humanitária forte por parte da Europa e da comunidade internacional poderia alcançar o que a intervenção militar e negociação política não conseguiram. Isto constituiria a mais clara evidência de que a experiência europeia de duas guerras mundiais e o Holocausto ensinaram que as sociedades livres, onde as pessoas de todos os credos e etnias fazem espaço umas para outras, são a única forma de honrar nossa humanidade compartilhada, quer concebamos esta humanidade em termos seculares ou religiosos. Se falharmos nisso, teremos falhado num dos testes fundamentais da humanidade.

Eu costumava pensar que a linha mais importante a Bíblia era "Ama o próximo como a ti mesmo". Então eu percebi que é fácil amar o seu próximo, porque ele ou ela é normalmente muito parecido com você. O que é difícil é amar o estranho, aquele cuja cor, cultura ou religião é diferente da sua. É por isso que o comando, "Amai o estrangeiro porque fostes estrangeiros na terra do Egito", ressoa muitas vezes em toda a Bíblia. Ele está nos chamando agora. Um ato corajoso de generosidade coletiva vai mostrar que o mundo, especialmente a Europa, aprendeu a lição de seu próprio passado escuro e está disposta a assumir a liderança mundial na construção de um futuro mais esperançoso. Guerras que não podem ser ganhas por armas às vezes podem ser vencidas pela força de atos de generosidade humanitária para inspirar os jovens a escolher o caminho da paz em vez da guerra santa.

Jonathan Sacks foi rabino-chefe de 1991 a 2013. Ele apoia Apelo da Crise da comunidade judaica 

Refugiados:
Papa defende acolhimento e ação nas "causas" de problema que é "ponta do iceberg"

Francisco admite em entrevista à rádio Renascença que Europa foi apanhada de "surpresa" e espera que Igreja esteja na primeira linha do apoio.

Cidade do Vaticano, 14 set 2015 (Ecclesia) - O Papa Francisco disse em entrevista à Rádio Renascença que a Europa deve acolher os refugiados que chegam às suas fronteiras e promover soluções para as “causas” desta situação, na sua origem.

“Onde as causas são a fome, há que criar fontes de trabalho, investimentos. Onde a causa é a guerra, procurar a paz, trabalhar pela paz”, assinala, em declarações divulgadas hoje pela emissora católica portuguesa.

Para Francisco, esta é a “ponta do icebergue” das consequências de um sistema socioeconômico “mau e injusto”.

“Esta pobre gente que escapa da guerra, que escapa da fome, é a ponta do icebergue”, sublinha.

O Papa sustenta que o sistema econômico dominante “descentrou a pessoa, colocando no centro o deus dinheiro, que é o ídolo da moda”.

Durante a entrevista, Francisco agradeceu a todos os que em Portugal se disponibilizaram para acolher refugiados.

“Felicito-vos e agradeço-vos pelo que estão a fazer e dou-vos um conselho: no dia do Juízo Final, já sabemos sobre o que vamos ser julgados, está escrito no capítulo 25 de São Mateus. Quando Jesus vos disser ‘estive com fome, deste-me de comer?’ e vocês vão dizer ‘Sim’... ‘E quando estive sem refúgio, como refugiado, ajudaste-me?’, ‘Sim’. Pois, felicito-vos: vão passar no exame”, declarou.

O pontífice argentino recordou a sua condição de filho de imigrantes e condenou a “falta a capacidade de acolhimento da humanidade”, dando como exemplo os ‘rohingya’ (refugiados no Golfo de Bengala e no Mar de Andamão).

“Chegam a um porto ou a uma praia, dão-lhes água, dão-lhes de comer e depois, mandam-nos outra vez para o mar e não os acolhem”, recordou.

Francisco admite que muitos levantem objeções, por causa da “crise laboral” ou das “condições de segurança territorial”.

“Temos, a 400 quilômetros da Sicília, uma guerrilha terrorista sumamente cruel, não é? Então, existe o perigo da infiltração, isso é verdade”, referiu.

O Papa rejeita, no entanto, leituras “simplistas”.

“Evidentemente, se chega um refugiado, com as medidas de segurança de todo o tipo, há que recebê-lo, porque é um mandamento da Bíblia”, insistiu.

Nesse sentido, explicou o seu apelo ao acolhimento de famílias de refugiados por todas as paróquias da Europa, precisando que não espera que estas tenham de ser alojadas na “casa paroquial”.

“Que toda a comunidade paroquial veja se há um lugar, um canto num colégio para aí se fazer um pequeno apartamento ou, na pior das hipóteses, que arrendem um modesto apartamento para essa família”, pediu.

Francisco revela que já teve “muitas” respostas e insistiu na abertura de conventos vazios.

“Algumas congregações dizem ‘não, agora que o convento está vazio, vamos fazer um hotel e podemos receber pessoas e, com isso, sustentamo-nos ou ganhamos dinheiro’. Pois bem, se quereis fazer isso, pagai os impostos”, advertiu.

O Papa falou num momento de “surpresa” para a Europa, face à vaga de refugiados e migrantes, sublinhando que “não se sabe como isto vai acabar”.

“Quero dizer que a Europa tomou consciência, e eu agradeço-lhe. Agradeço aos países da Europa que tomaram consciência disto”, prosseguiu.

A entrevista abordou o papel do Velho Continente no atual contexto, esperando que seja capaz de “retomar uma liderança no concerto das nações”, ou seja, “que volte a ser a Europa que define rumos, pois tem cultura para o fazer”.

Francisco lamentou que a Europa tenha querido falar da sua identidade (na redação do Tratado Constitucional, ndr), “sem querer reconhecer o mais profundo da sua identidade, que é a sua raiz cristã”.

“Aí enganou-se. Bom, mas todos nos enganamos na vida, está a tempo de recuperar a sua fé”, observou.

O Papa retomou ainda as preocupações com um mundo “em guerra contra si mesmo” e “contra a terra”.

Direitos Humanos: ONU pede política integrada para migrações

Leandra Felipe - Correspondente da Agência Brasil/EBC

A Europa e demais países devem estabelecer uma política integrada para a atual onda migratória e adotar diretrizes comuns para uma migração efetiva na acolhida de refugiados. A ideia foi defendida pelo Alto Comissário do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Zeid Ra'ad Al Hussein.

“Peço que os gestores políticos na África, Ásia, nas Américas, e no Pacífico, bem como na Europa, tomem ações rápidas para estabelecer regras para as migrações, guiadas por princípios”, disse, por meio de um comunicado emitido na noite desse domingo (14).

A Europa enfrenta a maior crise migratória desde a segunda guerra mundial. A estimativa é que mais de 430 mil pessoas tenham entrado no continente este ano, a maioria em busca de refúgio da guerra e repressão em países como a Síria.

No comunicado, Zeid Ra'ad Al Hussein saudou as manifestações de apoio aos refugiados  promovidas em vários países europeus nesse fim de semana. Mas defendeu que é preciso expandir os canais de migração e estabelecer mecanismos para alojamentos regulares. Estas duas medidas, disse, “podem prevenir mortes e diminuir o tráfico de pessoas para a Europa”.

Saiba Mais

Obama decide receber 10 mil refugiados sírios

Hoje à tarde os ministros do Interior da União Europeia têm agendada uma reunião sobre a distribuição de 160 mil refugiados pelos 28 Estados-membros, depois de a Alemanha ter reintroduzido o controle das fronteiras.

“Os Estados têm o direito soberano de defender as suas fronteiras e de determinar as condições de entrada e saída dos seus territórios”, reconheceu, acrescentando que “têm também a obrigação de respeitar as leis dos direitos humanos internacionais, as leis dos refugiados e a lei humanitária”.

Chamando atenção para a urgência, Zeid Ra'ad Al Hussein, insistiu que “os recentes e sucessivos anúncios de diferentes medidas de controle fronteiriço, por vários países afetados pela crise migratória, sinaliza para a importância de que seja estabelecida uma resposta europeia abrangente”.

Nas Américas, o Brasil vêm recebendo refugiados e na semana o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou que pretende receber 10 mil refugiados sírios até o ano que vem. O governo norte-americano vem sendo pressionado a contribuir de forma mais efetiva na acolhida aos refugiados.

*Com informações das agências Lusa e ONU  
Edição: Beto Coura
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