Durante 2018, cinco acadêmicos do curso de Farmácia da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) tiveram o desafio de mapear uma das três microáreas atendidas pela Unidade Básica de Saúde Osório (UBS). Através de um consórcio de pesquisa, orientado pela professora Janaina Motta, a insegurança alimentar, o atendimento e o uso de medicamentos pela população foram diagnosticados.
De acordo com a professora, o trabalho em consórcio possibilita o compartilhamento de uma mesma amostra, em que perguntas básicas são usadas por todos, variando apenas o desfecho (perguntas específicas). Além disso, o modelo de pesquisa diminui o índice de rejeição por parte do paciente que não precisa responder vários questionários. Redução de custos, tempo e incentivo ao trabalho em conjunto também estão entre as vantagens.
Na quinta-feira (06), os dados identificados na pesquisa foram apresentados à equipe da UBS, composta por médicos, enfermeiros e assistentes sociais. “O nosso maior resultado é justamente a devolução das informações para que a UBS possa pensar em ações de atenção à saúde voltadas à prevenção e melhoria dos problemas encontrados na comunidade”, acredita Janaina.
Ao todo, a pesquisa avaliou 88,8% da população da microárea escolhida. Foram aplicados 229 questionários individuais e 157 socioeconômicos, os quais consideravam variáveis como o acesso das famílias a programas de transferência de renda, escolaridade e gênero do chefe das famílias, e idade dos moradores da residência.
Avaliada como leve, moderada ou grave, a insegurança alimentar da população foi pesquisada pela acadêmica Ana Flávia Coquejo. A maior prevalência foi de insegurança leve (42%) que, segundo Janaina, se refere ao medo de não ter o que comer; 14% apresentaram insegurança grave; 12% moderada e 32% da comunidade estava em segurança alimentar. “A maior prevalência de insegurança grave se deu em famílias que o chefe estudou entre um e três anos”, explica a docente.
O acesso ao serviço de saúde, temática da estudante Fernanda Bergmann, identificou que os usuários da UBS são, em maioria, mulheres com menos de 50 anos e ensino fundamental incompleto. Além disso, 35% da amostra buscou atendimento nos 15 dias anteriores à realização da pesquisa e 54,3% avaliou o serviço prestado como bom, enquanto 22% considerou ótimo.
Dos atendimentos buscados pela população, 98,8% foram financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e, desses, 81% foram realizados na UBS. A maior procura da comunidade foi por consulta médica. Sobre os motivos, 43,2% apontou revisão e acompanhamento. Hipertensão (30%), dislipidemia (13,5%) e diabetes (6,5%) estavam entre as doenças mais identificadas na amostra.
O consórcio ainda mostrou que 11,4% das mulheres e 4,5% dos homens fazem o uso de mais de um medicamento (polimedicação), conforme pesquisa do acadêmico Eduardo Peglow. No total, a microárea consome 337 medicamentos. Desses, 66% foram orientados por profissional do setor público, 23% do privado e 10% foi oriundo de automedicação. Quanto ao acesso, 22,6% foram adquiridos na UBS; 21% na farmácia do SUS; 12% na farmácia popular e 32,3% em estabelecimentos comerciais, segundo trabalho da aluna Elizangela Pinz.
Por fim, a estudante Taila Ehlert analisou o uso de medicamentos psicotrópicos – substância química que age no sistema nervoso central. Do total da amostra que utilizava medicamentos, 80% consume psicotrópicos. Segundo Janaina, o diagnóstico não foi diferente do esperado. “Para o próximo semestre, pretendemos expandir a pesquisa em outras microáreas com novos alunos”, conclui.
Redação: Piero Vicenzi