O arquiteto e urbanista formado pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Cassius Baumgarten, desenvolveu durante a graduação um olhar especial para as problemáticas da habitação em Pelotas. O criador da Casa Pallet, - projeto de habitação popular sustentável e de baixíssimo custo – lança agora um novo programa, o Morar Bem. Famílias em situação de vulnerabilidade e com renda de até três salários mínimos são público-alvo da iniciativa. (clique na imagem acima e veja um antes e depois com fotos de uma moradia reformulada)
Tanto a Casa Pallet quando o novo projeto do egresso da UCPel são tentativas de apontar alternativas para reverter um cenário complicado: um terço da população de Pelotas mora em situação irregular. São 194 áreas com ocupações que possuem diversas habitações em condições insalubres para a moradia. “Posso afirmar que do total dessa população, cerca de 90% mora em habitações insalubres, algumas menos e outras mais”, informa Baumgarten, que atualmente trabalha Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária da Prefeitura de Pelotas.
O arquiteto considera o Programa Morar Bem uma evolução da Casa Pallet. Da ideia inicial, permanece a construção modular utilizando como parte estrutural a madeira. A novidade pode ser vista principalmente no revestimento externo e interno, que utiliza placas construídas a partir da trituração de embalagens Tetra Pak. “Na trituração é feita a separação do plástico, alumínio e papelão. Nas placas externas são utilizados alumínio, plástico e 30% de papelão, que em seguida são prensados”, explica. Já as placas de revestimento interno são compostas por 70% de papelão.
Entre as placas externas e internas, uma câmara de ar ajuda na eficiência energética, proporcionando mais conforto térmico. De acordo com o arquiteto, as placas, por serem feitas de alumínio e plástico, também são um excelente isolante térmico e se tornam mais eficientes do que as paredes feitas de alvenaria. “A construção da casa ainda leva em consideração o aproveitamento de recursos naturais como vento e luz”, complementa.
A elaboração do projeto segue a necessidade de cada família, podendo ser facilmente adaptado. “O projeto preocupa-se com a sensação de conforto, segurança e bem-estar através da valorização de um núcleo espacial”, comenta. A construção, por ser modulada, também permite que a casa seja desmontada caso a família necessite mudar para outro terreno.
Após a construção da residência, durante três meses a família segue sendo acompanhada pelo programa, que conta também com uma assistente social. “Fazemos uma avaliação pós-ocupação para identificar se a casa atende as necessidades da família. O projeto é realizado em conjunto com o proprietário, mas algumas vezes é necessário realizar ajustes, pois nem sempre conseguimos captar o que eles realmente necessitam”, diz.
Ao contrário da Casa Pallet, que era construída pelos próprios moradores com a ajuda de vizinhos, o Morar Bem conta com técnicos que levam cerca de 40 horas para construir 25 metros quadrados. Mas a família é incentivada a participar de alguns processos, como a demolição da residência antiga e a pintura da nova. “Convidamos as pessoas da casa para participar da demolição por ter uma questão simbólica”, explica.
Uma nova realidade
A primeira casa do Programa Morar Bem saiu recentemente do papel. Localizada na ocupação Uruguai (início da rua General Osório), mãe e filha já estão instaladas na nova residência de 25 metros quadrados. Com o custo de cerca de R$ 7 mil reais, a casa é composta por dois quartos, sala/cozinha, banheiro e ganhou novas redes elétrica e de água e esgoto.
“A antiga casa dessa família era muito insalubre. Era úmida, chovia dentro das peças, o espaçamento entre as madeiras era grande e a construção muito próxima do chão”, lembra. De acordo com Baumgarten, ainda não foi realizada uma conversa com as duas moradoras para avaliação. “Mas no momento da entrega da casa já deu para perceber como a dona da residência ficou contente por ter uma chave e poder trancar a sua residência ao sair”. A filha tinha vergonha de levar as amigas em casa, mas agora já há até uma lista das colegas que irão visita-lá, complementa o arquiteto.
Olhar para as questões sociais
Foi durante o sexto semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo da UCPel que Baumgarten começou a ser sensibilizado sobre os problemas de habitação. “A disciplina Habitação e Interesse Social foi um divisor de águas. Depois dali, comecei a enxergar a arquitetura com um ouro olhar”, lembra.
A Casa Pallet começou a sair do papel nesse período e posteriormente se tornou um projeto de extensão da UCPel. O arquiteto entregou a primeira quando já estava formado e atuando na regularização fundiária. “O meu trabalho na Prefeitura me propicia ter envolvimento com as condições desses loteamentos e posso avaliar que a habitação popular é uma coisa bem necessária ainda hoje”, diz.
Conforme explica o egresso da UCPel, o programa Minha Casa Minha Vida não consegue atingir todas as famílias por exigir comprovação da situação econômica. “Essas moradias ainda têm o problema de não atender as necessidades das famílias que precisam se adaptar ao espaço da casa”, avalia. O arquiteto também lembra que a prefeitura não possui um programa municipal de habitação.
Como entrar em contato com o programa
Famílias em situação de vulnerabilidade e com renda de até três salários mínimos devem se cadastrar no programa. Logo em seguida, uma equipe técnica visita a família para avaliação da condição de moradia. O projeto é apresentado e caso exista interesse, um contrato deve ser assinado. Após a assinatura, o programa produz um kit e realiza a montagem in loco. Durante os três meses, o programa faz um acompanhamento pós-ocupação.
Até o momento, uma casa com o custo de R$ 7 mil reais foi montada. O arquiteto está em busca de parceiros para possibilitar o financiamento das construções. “Com mais casas sendo construídas também será possível baratear o valor do material, o que irá reduzir o valor final”, planeja.
Mais informações sobre o Programa Morar Bem podem ser adquiridas através do e-mail contato@programamorarbem.com ou ainda pelo telefone (53) 8163-0010.