Um dos prédios onde o escritor João Simões Lopes Neto viveu e criou grande parte de sua obra agora possui um levantamento arquitetônico. O Palacete Payssandu, localizado na rua Barão de Santa Tecla, em frente à Praça Cipriano Barcelos, recebeu os estudantes do sétimo semestre de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Eles foram os responsáveis pela elaboração do levantamento e por propor diferentes usos para o imóvel.
Com toda a avaliação que contempla, além da investigação histórica, aspectos de legislação e elaboração de planta baixa, cortes, fachadas, esquadrias e detalhes construtivos, por exemplo, a família proprietária poderá ter maior respaldo para conseguir incentivos para restauração do prédio.
A engenheira Gisela Frattini e o arquiteto Fábio Caetano, ambos vinculados à Secretaria de Cultura do município (Secult), assistiram a apresentação dos projetos finais dos alunos. Segundo eles, a parceria com a Universidade foi fundamental para que mais um prédio tombado receba a atenção merecida. Conforme os profissionais, a equipe da Secult, por sua estrutura enxuta, não conseguiria realizar a empreitada. "Sem essa parceria, não haveria esse primeiro passo", afirmou Caetano.
A proprietária do prédio, Martha Hirsch, também esteve presente na apresentação das propostas de intervenção. "Quero agradecer à turma pela iniciativa", disse, na ocasião. A documentação gerada pelos alunos será encaminhada à ela e à Secult.
Depois de conhecer o local e estudar suas condições, os acadêmicos enxergaram além e criaram diferentes utilizações para o imóvel. Dentre as propostas, estiveram um complexo (com restaurante, café e biblioteca), centro digital de tradições gaúchas, escritório de advocacia, café literário, pub, hostel, centro cultural, galeria de arte, centro de idiomas, restaurante com galeria de arte e escola de música.
Propostas
Um desafio para os alunos, por apresentar características construtivas de outra época, com outros materiais e maneiras de pensar a edificação, o Palacete Payssandu virou um complexo com restaurante, café e biblioteca nas mãos de Marina Rocha. "Tentei preservar ao máximo as características da casa e atender às necessidades do uso que se propõe, para que a cidade ganhe. É um lugar que poderia ser mais valorizado", pontua, ao comentar que o local possui grande circulação de pessoas nos arredores e poderia oferecer opções de lazer.
A proposta de Yanni Nicolaides foi ousada, ao procurar repaginar o conceito de Centro de Tradições Gaúchas, unindo características contemporâneas à herança cultural. O Palacete Payssandu, em sua concepção, poderia se tornar um museu da cultura gaúcha que usa elementos como hologramas, cinema 3D e galerias com projeção, por exemplo. "É muito bom pensar em restauro e o valor que isso tem, ainda mais sendo um dos maiores potenciais da cidade. Pensar essa intervenção foi muito interessante. Agora, vemos o restauro com outros olhos", disse, acrescentando a dedicação dos alunos ao desafio. "Passamos mais tempo naquela casa, virtualmente, do que na nossa própria", comentou, com satisfação.
Palacete
Tombado em âmbito estadual, o Palacete Payssandu é o único em Pelotas em estilo neomourisco, presente em componentes e elementos decorativos. Permite reformas íntegras, sem alterações estruturais. O palacete se destaca pela originalidade da frontaria, em estilo eclético. O imóvel segue o gosto da arquitetura vigente no país na segunda metade do século 19.
No local, João Simões Lopes Neto casou, empreendeu vários de seus negócios mirabolantes e escreveu a maioria de suas peças. Deu início à carreira jornalística e confeccionou sua famosa coleção de cartões postais.