Nem sempre é necessário saber ler para se ter contato com o mundo imaginativo da literatura. Na Escola Luterana Emanuel, localizada no bairro Fragata, crianças ainda não alfabetizadas escutam, pintam, interpretam e vivem as mais diversas histórias infantis. Indiretamente, o hábito da leitura é incentivado de maneira lúdica e os pequenos aprendem brincando sobre os personagens que só existem nos livros. A iniciativa da professora Andréia Bonow, também aluna do terceiro semestre do curso de Pedagogia da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) é assim: uma ponte que une diversão, aprendizado e incentivo em uma mesma atividade.
A Hora do Conto já era desenvolvida como um projeto piloto dentro da Escola. O que Andréia fez foi direcionar o trabalho às demandas da professora Cristina Porciúncula para a disciplina de Seminário Integrado III, onde cada estudante precisaria desenvolver um plano de aula específico e, assim, vivenciar concretamente a realidade da Pedagogia na educação infantil. “O interessante é que ela trabalhou com várias áreas da Pedagogia, como a literatura, a construção de figurinos, a pintura; o que permitiu que ela vivenciasse todas as competências da área”, disse Cristina.
O Conto
Com base nos personagens de Monteiro Lobato, Andréia monta cenários e fantasia as crianças do Pré 5 ao menos duas vezes por semana. “É uma briga para escolher quem vai se fantasiar e com qual história vamos trabalhar”, conta. Logo após finalizar a leitura, deixa o espaço aberto para a contribuição das crianças, estimulando a participação. O que faz com que diversos pequenos dedinhos apontem freneticamente para o alto com interesse em complementar o que ouviram. “Eu, tia!”.
O ponto alto da empolgação, no entanto, vem quando a professora informa o momento de pintar. Aventais devidamente nomeados, tintas coloridas na mesa e o pincel na mão dão início a aventura, sempre relacionada à história trabalhada. Mas, manter a ordem em uma turma de quase 28 crianças cheias de energia nem sempre é fácil, e o Burro Conselheiro, personagem abordado em um dos encontros, em alguns casos acabou sendo esquecido na hora de soltar a imaginação.
De personagem em Personagem, o mundo criado para o Sítio do Pica-pau amarelo ganha forma e acaba transformado em um novo livro. A proposta final da atividade é elaborar um volume, contanto as histórias dos personagens, mas com um toque especial: a visão dos pequenos sobre toda a fantasia aprendida. Entre cada conto há uma folha em branco, espaço destinado à história recriada pelas crianças.
Resultado
Tanto a professora quanto a coordenadora da Escola mostraram-se satisfeitas com os resultados que o trabalho já vem apresentando. Em conversa com a mãe da menina Isabelle Campelo, de apenas cinco anos, a professora pode mensurar que essa atividade tem de fato incentivado a imaginação. Aquilo que aprende na sala de aula, Isabelle não mantém apenas para si. Brinca em casa de professora e repassa seu conhecimento para um público bastante especial: suas bonecas. “A Emília gosta de andar de bicicleta e é mandona”, comenta ao falar da personagem mais famosa de Monteiro Lobato.