A gravidez adolescente faz parte da história da humanidade e é amplamente discutida em relação à mãe e à criança. No entanto, buscando respostas sobre a figura do pai adolescente, a professora do curso de Medicina da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Milene Maria Saalfeld de Oliveira, foi premiada no 6º Congresso Gaúcho de Atualização em Pediatria e 4º Simpósio Sul-Americano de Pediatria, realizado de 12 a 15 de junho em Porto Alegre. A pesquisadora recebeu o Prêmio Salvador Célia, outorgado pela Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, com apoio da Sociedade Brasileira de Pediatria.
O trabalho, intitulado Paternidade na Adolescência: prevalência e fatores associados é fruto da dissertação de Mestrado em Saúde e Comportamento pela UCPel. O estudo foi escolhido entre 106 trabalhos apresentados no evento. "Este prêmio mostra que devemos cuidar mais dos nossos adolescentes, muitas vezes negligenciados em tantos sentidos. Podemos mudar este cenário com acesso à educação e serviços de saúde adequados ao atendimento integral dos adolescentes", avaliou.
A proposta da pesquisa era descrever a prevalência de paternidade na adolescência (ter sido pai entre dez e 20 anos incompletos) e fatores associados a ela. "Primeiro precisamos conhecer quem é o adolescente que torna-se pai e quais as causas que o levaram a antecipar esta fase da vida", afirma a médica.
De acordo com ela, há lacunas na literatura quanto ao pai adolescente. "A maioria dos dados que se tem sobre gravidez na adolescência ou da paternidade são através de informações das próprias parceiras ou de serviços de saúde. Neste trabalho, obtivemos as respostas com o próprio jovem", pontuou.
O estudo foi realizado na zona urbana de Pelotas, entre 2011 e 2012, e os dados foram coletados por entrevistas, num total de 604 homens. Entre eles, a prevalência de paternidade adolescente foi 6,1%. Destes, 18,9% dos adolescentes planejaram ter o filho; 48,6% tinham pais separados; 30,5% teve a primeira relação sexual antes dos 14 anos de idade e 21,6% não faziam uso de nenhum método de contracepção/proteção. De acordo com a pesquisadora, após análise dos dados verificou-se que está associado a ter a cor da pele preta, apresentar menor escolaridade e condição socioeconômica mais baixa, já ter uma companheira e ter tido iniciação sexual precoce.
Segundo a professora, considera-se que o pai tem papel fundamental como suporte emocional e financeiro à gestante, e deveria ser incluído no processo da gravidez e do nascimento da criança. "Tornar-se pai durante a adolescência é considerado um 'problema', causando grande impacto na vida. Entretanto, a situação deve ser encarada como uma possibilidade na história sexual ativa dos jovens, sem esquecer que existem variáveis que caracterizam um grupo mais vulnerável a ela", disse, mencionando que a sociedade encara a atividade sexual do adolescente como um dos requisitos de sua masculinidade.
A pesquisadora aponta, ainda, que cabe aos médicos, educadores e gestores em saúde proporem estratégias de informação, educação e acesso aos métodos contraceptivos trazendo para este debate o significado que a sexualidade e paternidade responsável desempenham na ascensão à maturidade.
Destaque
Médica pediatra e hebiatra (especialista em Medicina do Adolescente), Milene atua, ainda, no Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP) e no Campus da Saúde Dr. Franklin Olivé Leite, no ambulatório para adolescentes.
Os entrevistadores foram acadêmicos da UCPel dos cursos de Psicologia, Medicina e Fisioterapia, devidamente treinados para a coleta de dados. A orientação da pesquisa foi da professora Karen Jansen, com a co-orientação da professora Denise Mota. O projeto foi financiado pelo Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (PRONEX) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS).