Ele nasceu no mesmo ano do Programa Antártico Brasileiro, em 1982. Se formou em Medicina pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) em 2010. E, no próximo mês, retorna a Pelotas depois de passar aproximadamente 380 dias na Antártica. Juliano Quineper, primeiro-tenente médico da Marinha do Brasil, é encarregado da Enfermaria da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF). Na última quarta-feira (21), ele participou de uma videoconferência com os alunos do primeiro ano de Medicina da UCPel, quando falou a eles sobre o exercício da profissão nesse ambiente inusitado.
Na Estação, Quineper assessora assuntos relacionados à saúde na EACF e elabora os pedidos de suprimentos do setor de saúde (medicamentos e equipamentos). Além disso, mantém o aprestamento do Setor de Saúde da EACF e a Agência Comunitária Satélite dos Correios em funcionamento e assessora nas atividades de Comunicações Sociais da EACF - encargos colaterais do médico.
Para Quineper, a missão é um grande desafio, como um todo. Seja pela duração, maior que um ano - em duração a maior da Marinha -, sem ir em casa ou ter possibilidade de ver a família, o isolamento (no inverno somente os 15 militares permanecem na Estação - de março a novembro), o ambiente inóspito, extremo e hostil, com ventos e frio intensos. De acordo com ele, a temperatura mais baixa registrada na Estação, nesse inverno, foi -26ºC. Houve dias com ventos acima de cem quilômetros por hora.
Para o médico, conhecer a Antártica sempre foi um sonho, desde criança. Sobretudo a Estação Antártica Comandante Ferraz, a casa dos Brasileiros na Antártica. Para ele, as belezas naturais na Antártica são exuberantes e demonstram a insignificância do homem diante da magnitude e da força da natureza nesse continente. "Ver uma geleira pela primeira vez é desconcertante. Ter o prazer de acordar diariamente e poder contemplar uma geleira é um privilégio para poucos. O desafio, particularmente falando, é estar em um ambiente desse exercendo minha profissão. Isso é o grande agente motivador", contou.
O médico disse que apesar disso não vislumbrava essa possibilidade em seu futuro. "Minha ideia, como acredito que seja a de muitos estudantes de Medicina, era de me formar, fazer uma especialidade e exercer a Medicina diariamente, ajudando as pessoas trabalhando no que gostasse. Acabei me identificando com a carreira e as possibilidades que a Marinha coloca a disposição do Médico e investi nisso", afirmou.
Segundo a professora Janaína Motta, que convidou Quineper a contar suas experiências, a palestra foi uma forma de mostrar uma visão diferente do que é ser médico.
Até chegar lá
Após a formatura, Quineper e mais quatro colegas decidiram ser voluntários a servir a Marinha, em Rio Grande, no Comando do 5º Distrito Naval. Trancaram as vagas em residências em que haviam sido aprovados - ato que o serviço militar permite, por força de lei - e foram vivenciar essa experiência.
Passou por um treinamento de aproximadamente dois meses e foi, então, nomeado Guarda-Marinha. Após esse curso, serviu como médico do Grupamento de Fuzileiros Navais de Rio Grande e no Ambulatório Naval do Rio Grande. Em 2011, foi aprovado no concurso para o corpo de saúde da Marinha. Em março de 2012, foi para o Rio de Janeiro, para o Curso de Formação de Oficiais e se preparou no curso de Oficial Médico para a carreira naval. Ao final desse curso, foi nomeado primeiro-tenente.
Logo em seguida, Quineper foi voluntário para atuar na Amazônia, a bordo dos Navios de Assistência Hospitalar da Marinha e ficou lá até abril de 2013 atendendo populações ribeirinhas no Rio Amazonas e alguns de seus afluentes. "Essa, talvez, a mais gratificante experiência que já passei, pois vivenciei a realidade de um 'outro Brasil' - que costumamos ver somente pela televisão", destacou. Em abril de 2013, retornou a Rio Grande para trabalhar no Ambulatório Naval, quando teve a oportunidade de se voluntariar para a missão Antártica.
Segundo ele, é um rígido processo seletivo, composto de inspeção de saúde, testes psicológicos e dinâmicas de avaliação, para selecionar os 15 militares (incluíndo o médico ou médica), que irão compor o Grupo-Base e permanecer na Estação Antártica Comandante Ferraz por mais de um ano. Ao ser selecionado, foi ao Rio de Janeiro para a preparação da Operação Antártica (OPERANTAR XXXIII). De março de 2014 até a vinda para a Antártica, em novembro de 2014, ele fez diversos cursos e algumas instruções e atualizações no próprio Hospital da Marinha (Hospital Naval Marcílio Dias), "e talvez o principal curso, voltado para os cuidados avançados de suporte à vida em áreas remotas".
Retorno
Quineper retorna da Antártica com a residência médica em Anestesiologia garantida, no Hospital Naval Marcílio Dias. Ele deverá voltar no fim de novembro e o voo antártico, no Hércules da Força Aérea Brasileira, faz escala em Pelotas, para o grupo deixar as roupas especiais usadas na Antártica, que ficam alojadas em Rio Grande. Depois de tanto tempo isolado, ele irá aproveitar a passagem para matar a saudade da família.
PROANTAR
Nas suas três décadas, o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) pôde realizar uma média anual de 20 projetos de pesquisas nas áreas de oceanografia, biologia, biologia marinha, glaciologia, geologia, meteorologia e arquitetura, além de permitir à Marinha do Brasil, com o apoio da Força Aérea Brasileira, realizar uma das maiores operações de apoio logístico, em termos de complexidade e distância.
Na Ilha Rei George, Arquipélago das Shetlands do Sul, onde fica a Península Keller, há Estações e Bases de diversos países: Chilenos, Argentinos, Uruguaios, Peruanos, Poloneses, Russos. Usualmente, as tripulações das Estações e Bases são trocadas anualmente. As Bases mais próximas da brasileira são a Polonesa e a Peruana. "Temos um excelente relacionamento com todos, em especial com os poloneses, nos apoiando mutuamente", relatou. Mais informações sobre o PROANTAR podem ser obtidas
aqui.