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Convite à Reflexão - Liderança do Papa
29.06.2016 | 15:43 | #capelania-e-identidade-crista
Convite à Reflexão - Liderança do Papa
Em três anos de pontificado, o Papa Francisco despontou como um dos líderes mais destacados do mundo atual. Por ocasião do dia do Papa – festa litúrgica de São Pedro e São Paulo, em 29 de junho (comemoração adiada para o próximo domingo) -, nosso convite de reflexão destaca o significado da liderança do Papa Francisco, através de dois artigos. 

O primeiro analisa o estilo de liderança do Papa Francisco, em 12 lições, úteis não só para bispos e padres, mas para empresários e gestores em geral, e até para o cidadão comum em sua lide diária, na opinião de Jeffrey A. Krames, no livro “Lidere com Humildade”. Resumimos brevemente para você essas 12 lições.

No outro artigo, o professor Massimo Faggioli mostra as duas revoluções lideradas pelo Papa Francisco: uma no front interno, conduzindo a Igreja para um novo modelo, mais colegial, mais ecumênica e misericordiosa; o outro, no front social, com sua abertura aos refugiados e falando à consciência do mundo a favor de uma ecologia integral, de alerta para os riscos da degradação ambiental e da mudança climática. Nesta fronteira, Francisco propõe uma via de superação das duas crises que afetam a modernidade: a crise ambiental e a crise social, que na sua visão não são duas, mas uma única crise global, que nos convoca à ação.

Boa leitura!


As 12 lições de liderança do papa Francisco

Em seu livro “Lidere com Humildade”, o americano Jeffrey A. Krames descreve o que os homens de negócios podem aprender com o papa Francisco. 

Em um mundo altamente competitivo, ser humilde pode ser considerado uma fraqueza. Mas é daí que surge a força do Papa Francisco, uma das principais lideranças mundiais. No livro, o americano Jeffrey A. Krames descreve como o papa está se tornando um dos maiores líderes da humanidade e o que os homens de negócios podem aprender com suas lições. Krames, que mora em Chicago, já escreveu “Os princípios de liderança de Jack Welsh” e “A cabeça de Peter Drucker”. 

Confira os 12 principais pontos de seu novo livro:

1 – Lidere com humildade
O Papa Francisco acredita que a humildade autêntica capacita os líderes como nenhuma outra qualidade de liderança. “Se conseguirmos desenvolver uma atitude verdadeiramente humilde, poderemos mudar o mundo”, escreveu ele, antes de se tornar papa.

2 – Exale o cheiro do seu rebanho
Um dos “franciscismos” mais citados é a sua diretriz de “ter o cheiro de suas ovelhas”, o que significa mergulhar de maneira profunda e expressiva no grupo que você já lidera ou pretende liderar. Não por acaso, Bergoglio, seu nome de batismo antes de se tornar Papa, ficou conhecido como o “Bispo dos pobres”, por sua atuação marcante nas favelas argentinas.

3 – Quem sou eu para julgar
Em julho de 2013, o papa Francisco concedeu uma entrevista coletiva no voo de volta do Rio de Janeiro. Perguntado sobre o lobby gay, ele respondeu. “Um gay em busca de Deus, que tem boa vontade... bem, quem sou eu para julgá-lo?”. Com essa afirmação, o papa Francisco aponta para uma importante distinção entre “julgar” e “avaliar” as pessoas. Só um poder mais elevado do que o papa pode julgar uma pessoa.

4 – Não mude, reinvente
Desde que foi eleito, o papa Francisco tem enfrentado temas espinhosas para a Igreja Católica, como o divórcio e a união homossexual. Em todos eles, nunca fugiu a uma resposta, embora não tenha mudado nenhuma diretriz por parte do Vaticano. Pelo menos, em muitas ocasiões, deixou as portas abertas para discussão sobre esses temas polêmicos.

5 – Priorize a inclusão
Desde os seus primeiros dias como papa, a maior prioridade de Francisco foi tornar a Igreja Católica mais inclusiva. A busca da inclusão esteve no centro da maioria de suas principais decisões no seu primeiro ano como chefe da Igreja.

6 – Evite o isolamento
Para o papa Francisco, o diálogo é a chave para derrubar as paredes. Ele, por exemplo, criou um órgão consultivo formado por oito cardeais do mundo todo, apelidado de V-8, o que demonstra sua preocupação sobre a importância de se expor a diferentes pontos de vista. Francisco está também aberto ao diálogo com diversas religiões.

7 – Prefira o pragmatismo à ideologia
O papa Francisco demonstra seu pragmatismo de muitas maneiras. Ele sabe e reconhece que o mundo é um lugar enorme e diversificado, e que o ponto de inflexão estratégico da Igreja é composto de definições em rápida evolução do “novo normal” por parte das várias culturas: de casamento e uniões não tradicionais e à maior ênfase em questões ecológicas.

8 – Aplique a perspectiva da tomada de decisões
Francisco sempre acreditou que está longe de ser imune aos interesses políticos. Seu lado pragmático lhe permite ver os aspectos políticos inerentes à sua posição. Ele sabe muito bem o que motiva os líderes, o que também o inclui. “Somos todos animais Políticos, com “P” maiúsculo. A pregação dos valores humanos e religiosos tem consequências políticas.

9 – Administre sua organização como se fosse um hospital em campanha
O papa gosta de comparar a Igreja a um hospital de campanha, montado perto de uma zona de batalha para prestar atendimento de emergências aos feridos. A alusão se alinha perfeitamente a sua filosofia, pois permite que os médicos sintam o cheiro do seu rebanho, sejam inclusivos e não julguem as vítimas por seus ferimentos.

10 – Viva na fronteira
Francisco tinha poucos vínculos com as panelinhas de Roma, mesmo assim foi eleito papa. Ele vive na fronteira ao mesmo tempo em que exerce o poder e vive de acordo com um código de humildade radical que ele mesmo se impõe.

11 – Confronte as adversidades com decisão
No fim de março de 2014, o papa Francisco se ajoelhou e se confessou em público. Com isso, ele demonstrou ao mundo duas coisas: em primeiro lugar, que é de fato um pecador; e em segundo, por extensão, que todos são pecadores. Tornar-se pontífice atestou como uma pessoa imperfeita pode superar seus pecados e grandes adversidades e ainda vir a ser uma das personalidades mais respeitadas e populares do cenário mundial.

12 – Não só os clientes merecem sua atenção
O objetivo final do papa Francisco é influenciar pessoalmente o maior número possível de ovelhas. Ele deseja que todos os líderes da Igreja e membros do clero façam o mesmo. Ele quer aproximar as pessoas de Deus, independentemente da religião, raça e preferência sexual. O seu objetivo no mundo dos negócios pode ser análogo. Para ter sucesso, você deve se aproximar dos forasteiros, os seus “não clientes”. (Baseado em artigo de Istoé, 3/06/2015).



Crise dos refugiados e conversões ideológicas ao catolicismo 

O ato simbólico de libertar refugiados é também um ato de reforma na Igreja (sexta, 29 de abril de 2016). Artigo de Massimo Faggioli.

“O Papa Francisco está tentando transformar Roma no trampolim para uma Igreja sinodal e colegiada. É uma Igreja não apegada à Europa ou a uma cultura em particular. Não está claro aonde este esforço irá levar. Mas claro está que a visão de Roma e do Vaticano que o papa jesuíta possui decorre não só a partir de sua eclesiologia, mas também de sua leitura dos sinais dos tempos”, escreve Massimo Faggioli, professor de História do Cristianismo na University of St. Thomas, EUA, em artigo publicado por Global Pulse, 27-04-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Eis o artigo.

Frequentemente o Papa Francisco é acusado de ser populista. No entanto, ele vem tendo muito sucesso em estabelecer relações entre Roma e as demais capitais da assim-chamada geopolítica cristã: Constantinopla (“a segunda Roma” do cristianismo bizantino), Moscou (“a terceira Roma” da ortodoxia russa) e Nova York (a capital cultural do país cristão mais militante do mundo).

A capacidade do papa de estabelecer tais conexões ficou evidente já no início de seu pontificado. Mas ultimamente algumas coisas se aceleraram.

Num breve período de oito dias (de 8 a 16 de julho de 2015), ele publicou a exortação pós-sinodal fundamentalmente importante Amoris Laetitia, habilmente lidou com a presença diplomaticamente delicada de um presidenciável americano no Vaticano e viajou para a Grécia com dois importantes líderes ortodoxos para se encontrar com refugiados mantidos na ilha de Lesbos.

As viagens de Francisco estão sendo significativas não só por causa da geografia física delas; quer dizer, os destinos para onde ele foi. As suas viagens também esboçam outra geografia: um mapa daquelas figuras que ele consegue atrair e envolver em suas iniciativas.

O papa de 79 anos “atraiu” a colaboração de Bartolomeu I, o Patriarca de Constantinopla (um verdadeiro parceiro de diálogo), e o Arcebispo Jerônimo, chefe da Igreja Ortodoxa Grega, um dos mais relutantes ao diálogo com o catolicismo romano. Ambos fizeram parte de sua visita emblemática a Lesbos.

De forma inesperada, Francisco foi também capaz de engajar Kirill I, o Patriarca de Moscou, num encontro histórico entre os dois na Cuba comunista – uma das ironias da história da Igreja. Estas iniciativas possuem consequências ecumênicas para o catolicismo assim como para a tradição ortodoxa. O Bispo de Roma está atraindo os hierarcas da ortodoxia oriental e ajudando-os a lidar com as franjas intransigentes e antiecumênicas. Isso é particularmente importante hoje, nas vésperas do Sínodo Pan-ortodoxo histórico que vai acontecer em junho próximo em Creta.

Mas Francisco igualmente seduziu – de uma forma não costumeira para o Vaticano, a mais antiga diplomacia do mundo ocidental – o candidato socialista judeu à presidência americana, Bernie Sanders. A significação disso ultrapassa os alinhamentos políticos novos e surpreendentes entre o Vaticano e os políticos mundiais. Ele sublinha a resiliência do Vaticano e da Roma papal no cenário mundial.

Em termos políticos, o Vaticano é uma relíquia do passado que deve mais à história política da Europa do que ao martírio de Pedro e Paulo. Há, porém, uma resiliência deste lugar, o seu simbolismo, a sua capacidade de reconhecer e interpretar eventos mundiais, que é fruto da capacidade da Igreja de se adaptar a condições cambiantes.

Em 1870, o papado perdeu Roma e seu poder temporal. Os pontífices de 1846-1939 (de Pio IX a Pio XI) lamentaram essa perda. Porém, no rescaldo do Concílio Vaticano II, Paulo VI considerou-a providencial.

Durante os pontificados de João Paul II e Bento XVI, o Vaticano se transformou no centro da política católica, como uma consequência dos esforços em centralizar em Roma tudo o que dizia respeito à Igreja Católica global.

Mas o Papa Francisco agora está tentando transformar Roma no trampolim para uma Igreja sinodal e colegiada. É uma Igreja não apegada à Europa ou a uma cultura em particular.

Não está claro aonde este esforço irá levar. Mas claro está que a visão de Roma e do Vaticano que o papa jesuíta possui decorre não só a partir de sua eclesiologia, mas também de sua leitura dos sinais dos tempos.

A ida a Lesbos foi, ao mesmo tempo, uma peregrinação ecumênica e uma visita ao cemitério inter-religioso imenso em que o Mediterrâneo se tornou por causa das ondas de refugiados que morreram no mar enquanto tentavam escapar da guerra. E um dos sinais dos tempos é a ilusão dos políticos europeus em suas tentativas de livrar a Europa e o Mediterrâneo do DNA multirreligioso e multicultural da região.

A ênfase de Francisco em que esta é “a crise humanitária mais grave desde a Segunda Guerra Mundial” é outro lembrete de que, hoje, é preciso um papa da Argentina para recordar a Europa do que a Europa deve fazer.

A atração que Bernie Sanders e as igrejas ortodoxas têm por este papa contrasta-se com a hostilidade que o establishment político europeu tem mostrado para com esta sua mensagem social.

As palavras, em Lesbos, de Francisco, Bartolomeu e Jerônimo emitiram uma mensagem clara à União Europeia e à Turquia com respeito às suas políticas concernentes aos refugiados. Mas as palavras deles também sinalizaram que existem paralelos entre o período pós-Segunda Guerra e o momento atual.

O período imediatamente após 1945 foi o começo do envolvimento da Igreja Católica (mesmo se lenta e cautelosamente) no movimento ecumênico cristão. De forma parecida, a presente crise humanitária pode ser o berço de um novo internacionalismo ecumênico na medida em que o mundo tenta ajudar as vítimas da explosão do mundo árabe.

Isto não é a construção de uma arquitetura geopolítica complexa, mas uma intuição profunda do Papa Francisco. Os refugiados não sabem de teologia, mas sabem o que a Igreja é. É um exemplo da pastoralidade da doutrina que o papa tem em mente. É também uma resposta aos que se queixam de que os ensinamentos dele carecem de clareza e que denigrem a pastoralidade como sendo meras sutilezas eclesiásticas.

Mas, claramente, a ênfase pastoral do papa é algo maior, especialmente a sua volta a Roma com doze refugiados muçulmanos a bordo de seu avião. O ato simbólico de libertar refugiados dos campos onde eles estão detidos é igualmente um ato de reforma na Igreja.

A ironia é que esse ato político perturbador foi possível também devido ao papel extraordinário do Vaticano como um Estado, à sua extraterritorialidade e à herança do poder temporal antigo que o papa possui.

Estas últimas semanas constituíram mais um daqueles momentos em que Francisco coloca o seu pontificado profundamente em desacordo com um século que tem visto conservadores e reacionários fazerem conversões ideológicas ao catolicismo, desde Carl Schmitt na Alemanha nazista até Richard John Neuhaus nas guerras culturais americanas pós-Reagan.

Não é por acaso que estas conversões políticas envolveram nacionalistas que buscavam um refúgio ideológico desta modernidade cosmopolita. Também não é por acaso que a resposta a eles é o espírito global e ecumênico do catolicismo. 

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