A copa do mundo de futebol mobiliza muito... Mobiliza pessoas, corações, imprensa e... muito, muito interesse econômico e político. Esta capelania universitária, convicta de que a Evangelização (isto é, o alegre anúncio da Boa Notícia trazida por Jesus Cristo) deve abranger toda a realidade humana, tem procurado ofertar periodicamente subsídios de reflexão. São artigos que recolhemos e que, à luz da fé, nos podem ajudar a pensar e agir, no âmbito eclesial e no social, em favor da vida e na colaboração ao grande projeto divino da Criação. Nessas semanas, optamos por disponibilizar textos que abordam o referido evento mundial, sediado neste ano em nosso país. Longe da rasa unanimidade, buscamos oferecer um contraponto crítico à uniformização ditada pelo mercado (para o qual vale o que rende mais para poucos). Entre a sedução do esporte e a sadia indignação ante o uso e apropriação que dele se vem fazendo, apresentamos dois questionamentos. No primeiro, vemos como um artista de renome nacional, ainda que simpático ao futebol, nega-se a participar da pseudo unanimidade “padrão Fifa”. O outro texto corresponde a uma pequena amostra da problemática social que subjaz, invisibilizada pela grande mídia, à “pátria de chuteiras”.
Boa leitura! Boa reflexão!
Fagner fora da Copa: cantor achou "meio ridículo" convite de Fifa e Globo
Andar ao lado de Raimundo Fagner em Fortaleza é quase um teste de paciência. Não, o cantor não tem nenhum problema com a cidade. Pelo contrário. A cada esquina que passa, é um pedido de foto, um cumprimento, uma pergunta, outra saudação, um abraço. O músico, com paciência, atende a todos, como se conhecesse os fãs há tempos. Ouve cada frase e aviso de que um parente é seu fã com um sorriso no rosto.
Na última semana, a reportagem do UOL Esporte caminhou com ele em direção a um evento de inauguração de um campo sintético da cidade. Fagner foi por vontade própria bisbilhotar o que acontecia. Ficou por alguns minutos como um observador na rua. Até que foi reconhecido e virou atração. Não deu outra: o prefeito o chamou para o palanque e a organização o fez sair na foto de inauguração do estádio. Até bateu pênalti e fez um gol antes do primeiro jogo oficial. Só então deixarem que ele fosse embora.
Ele é um dos principais nomes mais famosos da capital cearense. É uma figura importante da música brasileira. E fã incondicional de futebol: ficou até concentrado com a seleção em 1982. Por tudo isso, recebeu convite para ser uma das atrações da Fan Fest, a festa oficial da Fifa em parceria com a Globo, que acontece nas cidades sedes. Aceitou? Não. O cantor preferiu fazer seus shows nas tradicionais festas de São João pelo Nordeste.
"Fui convidado para fazer as Fan Fests e desde o começo recusei. Até porque não gosto de cantar em Copa. E a produção, da Fifa com a TV Globo, acha que o artista está se sentindo muito bem em estar ali, tem até que pagar para estar ali. Achei meio ridículo. As condições que ofereceram, desde novembro, é como se a gente que estivesse querendo ir. Não é esse meu caso. Recusei convite da Fifa, da TV Globo, do governo do estado, da prefeitura. Não quis fazer. Pra mim não é essa visibilidade. Não achei a oferta legal e tem muita gente precisando aparecer. Não me interessei em fazer", falou o cantor, em entrevista ao UOL Esporte.
Fagner não detalhou o valor da proposta que recebeu, mas disse que nem levou a sério o que ouviu. Pesou, também, o fato de não querer estar atrelado aos meios oficiais da Copa para poder opinar com liberdade. "A proposta que veio eu deletei. Eles é que devem ter interesse em me ter aqui, mas a proposta foi o contrário. E outra: não quero trabalhar dentro desse espírito da Copa. Estou também preocupado com o que pode acontecer. Na Copa das Confederações, fiz um show e veio uma ordem dos movimentos sociais pra não chegarem perto de mim, que não me incomodassem. Não quero passar por essa experiência de movimentos… Não quis estar envolvido. Não foi só pela proposta, que achei desrespeitosa. Agora, também não quis estar aliado e estar trabalhando em eventos da Copa", explicou.
"A maioria quer saber o que acho. Não quero estar dentro dessa célula e estar envolvido nesse projeto. E as festas de São João sempre fizeram parte da minha agenda. Tenho minhas dúvidas sobre o que vai acontecer nesses eventos (da Copa). Não quis ficar com instabilidade emocional e com preocupação em shows. Quero estar livre pra falar o que acho, mesmo torcendo pra dar tudo certo. Não tenho que ir atrás deles. E achei desrespeitoso acharem que é o artista que tem que participar. É uma tremenda roubada. O que é Fan Fest? Não sei o que é isso. Quem é Fan Fest da Fifa?".
A Fan Fest teve seu primeiro evento no Brasil realizado na noite do último domingo, com o cantor Bell Marques como grande atração. A festa oficial da Copa do Mundo é organizada pela Fifa, com as cidades sedes custeando a infraestrutura. A Globo é a incumbida pela produção artística dos shows.
Desejo por reivindicações organizadas
Fagner disse que, se puder e a agenda permitir, assistirá a algum jogo in loco pela sua paixão pelo futebol. Ele diz que o clima no país é instável justo no momento que se realiza a Copa do Mundo e deseja que quem protestar faça isso de uma maneira positiva.
"Foi uma infeliz coincidência de ter a Copa do Mundo em um momento eleitoral e que o país passa dificuldades, todos cobrando muito com manifestações. Ninguém sabe como serão, só que elas virão. E espero que elas tenham pouca interferência dentro do futebol. A coincidência dos dois eventos foi ruim, mas acho que a maioria dos brasileiros vai se envolver com a Copa. Eu gostaria que os manifestantes fizessem uma grande passeata cívica. É uma utopia, mas algo que lembrasse caras pintadas, Diretas Já, que protestassem contra a corrupção ou pelas deficiências que o povo sente. Vou sonhar que a Copa e os movimentos sociais encontrem seus caminhos, não que se colidam".
"Você não pode nem extrapolar sua alegria se gostar da Copa, fica com medo. Com o futebol sim, fico feliz. Mas quem quer uma coisa mais social não vai deixar passar. Mas quem gosta do futebol… É uma coisa muito bonita, uma grande empolgação. Aqui vai ser palco do mundo inteiro e queria que procurassem uma maneira criativa de mostrar a insatisfação e o que não funciona aqui. Porque a violência não vai levar pra lugar nenhum. O Brasil tem exemplos e que seja criativo pra reivindicações sejam vistas e positivas. Que os movimentos sociais se inspirem na nossa criatividade para verem que o Brasil precisa de socorro", continuou.
Copa de 82
Fagner fez parte da concentração do histórico time brasileiro que jogou a Copa de 1982, na Espanha, por sua amizade com Zico, Sócrates e outros jogadores. Foi até chamado pelo técnico Telê Santana para participar de um rachão de dois toques um dia.
Lembra, como se fosse um jogador do elenco, da frustração que a derrota para a Itália causou naquele grupo. "Eu vivi o trauma, junto com eles, de não ganhar. O Brasil desembarcou lá com muita alegria. Eu estava no estádio quando perdemos pra Itália. No dia seguinte eu tinha um jogo dos artistas, eu era capitão, e nem consegui jogar. Eu estava dentro daquele grupo e vivi aquela tragédia", relembrou.
Para a Copa de 2014, Fagner diz ter muita confiança no time brasileiro. "Confio muito no time pra que conduzam o futebol e empolguem a população. Acho que pra todos os times fortes, o favorito é o Brasil. Temos grandes jogadores de meio-campo. No ataque poderíamos ter o Luis Fabiano, um cara guerreiro, é marrento. Lá na frente tem que ter marrento. Sabemos que o Fred resolve na hora H, mas está fisicamente mal. O Oscar é bom, esse menino Willian também. Além do Neymar, grande esperança, e o Hulk, que pode ser o Jairzinho de 1970. É uma máquina de jogar bola. O time está entrosado."
Fonte: José Ricardo Leite, do UOL, em Fortaleza (CE), 09/06/2014
Governo federal cede e sem-teto anunciam fim de protesto contra Copa
Serão construídas 2 mil moradias na ocupação Copa do Povo e programa Minha Casa Minha Vida será modificado. Pressão agora é para aprovar Plano Diretor
SÃO PAULO - A dois dias da Copa do Mundo, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, anunciou nesta segunda-feira, 9, um acordo com o governo federal e o fim das manifestações contra o Mundial em São Paulo. “Encerramos nossa jornada com a vitória da mobilização das ruas e com nossa pauta completamente atendida”, resumiu o líder da entidade que protagonizou as maiores manifestações na cidade ao longo dos últimos três meses.
Para arrefecer os ânimos dos movimentos de moradia, o governo federal promete mudar o Programa Minha Casa Minha Vida e financiar a construção de 2 mil moradias no terreno onde está a Ocupação Copa do Povo, em Itaquera, zona leste. As informações foram divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo.
As entidades também vão poder construir de forma simultânea 4 mil apartamentos do programa do governo federal - hoje esse limite é de mil unidades. A Secretaria-Geral da Presidência confirmou as mudanças e o acordo com o MTST.
Após iniciar uma entrevista na qual dizia que haveria protestos hoje e no dia da abertura da Copa, quinta-feira, Boulos recebeu um telefonema de Brasília. Era um interlocutor do ministro da Casa Civil, Gilberto Carvalho. Depois de sete minutos de conversa ao celular, Boulos chamou novamente os repórteres, dizendo que precisava mudar seu anúncio. O governo federal havia acabado de acatar as reivindicações do MTST e marcou audiência no dia 16 para assinar o acordo.
“As moradias serão erguidas no terreno da Copa do Povo pela própria Construtora Viver, que é a dona da área. Portanto, não haverá necessidade de a Prefeitura gastar dinheiro com desapropriação. Agora, só falta a Câmara Municipal aprovar o Plano Diretor e mudar o zoneamento da área do terreno, para transformar a área em Zeis (Zona Especial de Interesse Social)”, afirmou Boulos.
O MTST afirmou que não vai mais marcar atos em favor da greve dos metroviários ou de qualquer outro movimento. O foco será a aprovação do Plano Diretor em segunda votação. “Não podemos mais deixar que interesses do mercado imobiliário ditem o trabalho na Câmara. O Plano Diretor não é um plano só para legalizar a Ocupação Copa do Povo, é uma proposta de interesse para toda a cidade”, discursou Boulos.
Plano Diretor. A gestão Fernando Haddad (PT) também pressiona os vereadores. Na noite desta segunda, o prefeito se reuniu com os líderes de bancada e pediu pressa na votação. Mas a estratégia não tem o apoio de todos os vereadores. Representantes de PSDB, PSD, PMDB, DEM e PV consideram que o tema ainda carece de debate.
“As emendas do governo chegaram hoje (segunda-feira). Juridicamente é inviável votar antes da quinta da outra semana”, afirmou Milton Leite (DEM). Andrea Matarazzo (PSDB) diz que sua bancada vai cumprir o protocolo para obstruir a aprovação do plano nesta semana.
Logo após reunião com Haddad, por volta das 20h, o líder do governo, Arselino Tatto (PT), explicou que a intenção hoje é fazer a consolidação do texto integral, já com as emendas. Em seguida, ele será repassado às bancadas. Só depois é que o governo espera iniciar as discussões e programar a votação.
Fonte:
Estadão - 09/06/2014. Por Diego Zanchetta (colaborou Adriana Ferraz).