A Igreja, no Rio Grande do Sul, proporcionou aos jovens de diversas dioceses do Estado a “Semana Missionária”, que aconteceu de 20 a 26 de julho. Da Arquidiocese de Pelotas participaram seis jovens.
Essa foi uma oportunidade para os jovens fazerem a experiência de Pastoral de Conjunto, através das diferentes realidades vivenciadas pela Pastoral Carcerária, Pastoral da Aids, e pelos trabalhos sociais. “Uma oportunidade para que o missionário faça um encontro com a pessoa do catador, com a pessoa do presidiário, com a pessoa que está com o vírus HIV, liberando-se de todo o preconceito e fazendo a experiência do encontro”.
Em diálogo com a Arquidiocese de Pelotas, da qual a UCPel faz parte e em comunhão com o Serviço de Evangelização do Rio Grande do Sul, oferecemos um excerto do capítulo I da Exortação Apostólica do Papa Francisco Evangelli Gaudium, que aborda o tópico sobre uma Igreja “em saída” e uma “Pastoral em conversão”. Disponibilizamos também um artigo de Rosino Gibellini “Missão, diálogo profético”, fornecido pelo portal IHU. “A missão como ‘diálogo’ expressa o estilo da escuta das culturas a serem evangelizadas”.
Por fim, publicamos a Carta de Dom Adelar Baluffi aos Jovens Missionários.
Que este convite à reflexão nos ajude a estar em estado permanente de missão, conforme o solícito Papa Francisco nos pede.
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM DO PAPA FRANCISCO SOBRE O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ATUAL
[ EN, números 19 a 26, 30 a 33]
Capítulo I
A TRANSFORMAÇÃO MISSIONÁRIA DA IGREJA
19. A evangelização obedece ao mandato missionário de Jesus: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (Mt 28, 19-20). Nestes versículos, aparece o momento em que o Ressuscitado envia os seus a pregar o Evangelho em todos os tempos e lugares, para que a fé n’Ele se estenda a todos os cantos da terra.
I. Uma Igreja «em saída»
20. Na Palavra de Deus, aparece constantemente este dinamismo de «saída», que Deus quer provocar nos crentes. Abraão aceitou a chamada para partir rumo a uma nova terra (cf. Gn 12, 1-3). Moisés ouviu a chamada de Deus: «Vai; Eu te envio» (Ex 3, 10), e fez sair o povo para a terra prometida (cf. Ex 3, 17). A Jeremias disse: «Irás aonde Eu te enviar» (Jr 1, 7). Naquele «ide» de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova «saída» missionária. Cada cristão e cada comunidade há-de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho.
21. A alegria do Evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos, é uma alegria missionária. Experimentam-na os setenta e dois discípulos, que voltam da missão cheios de alegria (cf. Lc 10, 17). Vive-a Jesus, que exulta de alegria no Espírito Santo e louva o Pai, porque a sua revelação chega aos pobres e aos pequeninos (cf. Lc 10, 21). Sentem-na, cheios de admiração, os primeiros que se convertem no Pentecostes, ao ouvir «cada um na sua própria língua» (Act 2, 6) a pregação dos Apóstolos. Esta alegria é um sinal de que o Evangelho foi anunciado e está a frutificar. Mas contém sempre a dinâmica do êxodo e do dom, de sair de si mesmo, de caminhar e de semear sempre de novo, sempre mais além. O Senhor diz: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim» (Mc 1, 38). Ele, depois de lançar a semente num lugar, não se demora lá a explicar melhor ou a cumprir novos sinais, mas o Espírito leva-O a partir para outras aldeias.
22. A Palavra possui, em si mesma, uma tal potencialidade, que não a podemos prever. O Evangelho fala da semente que, uma vez lançada à terra, cresce por si mesma, inclusive quando o agricultor dorme (cf. Mc 4, 26-29). A Igreja deve aceitar esta liberdade incontrolável da Palavra, que é eficaz a seu modo e sob formas tão variadas que muitas vezes nos escapam, superando as nossas previsões e quebrando os nossos esquemas.
23. A intimidade da Igreja com Jesus é uma intimidade itinerante, e a comunhão «reveste essencialmente a forma de comunhão missionária».[20] Fiel ao modelo do Mestre, é vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém; assim foi anunciada pelo anjo aos pastores de Belém: «Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo» (Lc 2, 10). O Apocalipse fala de «uma Boa Nova de valor eterno para anunciar aos habitantes da terra: a todas as nações, tribos, línguas e povos» (Ap 14, 6).
«Primeirear», envolver-se, acompanhar, frutificar e festejar
24. A Igreja «em saída» é a comunidade de discípulos missionários que «primeireiam», que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Primeireiam – desculpai o neologismo –, tomam a iniciativa! A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva. Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa! Como consequência, a Igreja sabe «envolver-se». Jesus lavou os pés aos seus discípulos. O Senhor envolve-Se e envolve os seus, pondo-Se de joelhos diante dos outros para os lavar; mas, logo a seguir, diz aos discípulos: «Sereis felizes se o puserdes em prática» (Jo 13, 17). Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Os evangelizadores contraem assim o «cheiro das ovelhas», e estas escutam a sua voz. Em seguida, a comunidade evangelizadora dispõe-se a «acompanhar». Acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece as longas esperas e a suportação apostólica. A evangelização patenteia muita paciência, e evita deter-se a considerar as limitações. Fiel ao dom do Senhor, sabe também «frutificar». A comunidade evangelizadora mantém-se atenta aos frutos, porque o Senhor a quer fecunda. Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio. O semeador, quando vê surgir o joio no meio do trigo, não tem reacções lastimosas ou alarmistas. Encontra o modo para fazer com que a Palavra se encarne numa situação concreta e dê frutos de vida nova, apesar de serem aparentemente imperfeitos ou defeituosos. O discípulo sabe oferecer a vida inteira e jogá-la até ao martírio como testemunho de Jesus Cristo, mas o seu sonho não é estar cheio de inimigos, mas antes que a Palavra seja acolhida e manifeste a sua força libertadora e renovadora. Por fim, a comunidade evangelizadora jubilosa sabe sempre «festejar»: celebra e festeja cada pequena vitória, cada passo em frente na evangelização. No meio desta exigência diária de fazer avançar o bem, a evangelização jubilosa torna-se beleza na liturgia. A Igreja evangeliza e se evangeliza com a beleza da liturgia, que é também celebração da actividade evangelizadora e fonte dum renovado impulso para se dar.
II. Pastoral em conversão
25. Não ignoro que hoje os documentos não suscitam o mesmo interesse que noutras épocas, acabando rapidamente esquecidos. Apesar disso sublinho que, aquilo que pretendo deixar expresso aqui, possui um significado programático e tem consequências importantes. Espero que todas as comunidades se esforcem por atuar os meios necessários para avançar no caminho duma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão. Neste momento, não nos serve uma «simples administração».[21] Constituamo-nos em «estado permanente de missão»,[22] em todas as regiões da terra.
26. Paulo VI convidou a alargar o apelo à renovação de modo que ressalte, com força, que não se dirige apenas aos indivíduos, mas à Igreja inteira. Lembremos este texto memorável, que não perdeu a sua força interpeladora: «A Igreja deve aprofundar a consciência de si mesma, meditar sobre o seu próprio mistério (...). Desta consciência esclarecida e operante deriva espontaneamente um desejo de comparar a imagem ideal da Igreja, tal como Cristo a viu, quis e amou, ou seja, como sua Esposa santa e imaculada (Ef 5, 27), com o rosto real que a Igreja apresenta hoje. (…) Em consequência disso, surge uma necessidade generosa e quase impaciente de renovação, isto é, de emenda dos defeitos, que aquela consciência denuncia e rejeita, como se fosse um exame interior ao espelho do modelo que Cristo nos deixou de Si mesmo».[23]
O Concílio Vaticano II apresentou a conversão eclesial como a abertura a uma reforma permanente de si mesma por fidelidade a Jesus Cristo: «Toda a renovação da Igreja consiste essencialmente numa maior fidelidade à própria vocação. (…) A Igreja peregrina é chamada por Cristo a esta reforma perene. Como instituição humana e terrena, a Igreja necessita perpetuamente desta reforma».[24]
Há estruturas eclesiais que podem chegar a condicionar um dinamismo evangelizador; de igual modo, as boas estruturas servem quando há uma vida que as anima, sustenta e avalia. Sem vida nova e espírito evangélico autêntico, sem «fidelidade da Igreja à própria vocação», toda e qualquer nova estrutura se corrompe em pouco tempo.
30. Cada Igreja particular, porção da Igreja Católica sob a guia do seu Bispo, está, também ela, chamada à conversão missionária. Ela é o sujeito primário da evangelização,[30] enquanto é a manifestação concreta da única Igreja num lugar da terra e, nela, «está verdadeiramente presente e opera a Igreja de Cristo, una, santa, católica e apostólica».[31] É a Igreja encarnada num espaço concreto, dotada de todos os meios de salvação dados por Cristo, mas com um rosto local. A sua alegria de comunicar Jesus Cristo exprime-se tanto na sua preocupação por anunciá-Lo noutros lugares mais necessitados, como numa constante saída para as periferias do seu território ou para os novos âmbitos socioculturais.[32] Procura estar sempre onde fazem mais falta a luz e a vida do Ressuscitado.[33] Para que este impulso missionário seja cada vez mais intenso, generoso e fecundo, exorto também cada uma das Igrejas particulares a entrar decididamente num processo de discernimento, purificação e reforma.
31. O Bispo deve favorecer sempre a comunhão missionária na sua Igreja diocesana, seguindo o ideal das primeiras comunidades cristãs, em que os crentes tinham um só coração e uma só alma (cf. Act 4, 32) . Para isso, às vezes pôr-se-á à frente para indicar a estrada e sustentar a esperança do povo, outras vezes manter-se-á simplesmente no meio de todos com a sua proximidade simples e misericordiosa e, em certas circunstâncias, deverá caminhar atrás do povo, para ajudar aqueles que se atrasaram e sobretudo porque o próprio rebanho possui o olfacto para encontrar novas estradas. Na sua missão de promover uma comunhão dinâmica, aberta e missionária, deverá estimular e procurar o amadurecimento dos organismos de participação propostos pelo Código de Direito Canónico [34] e de outras formas de diálogo pastoral, com o desejo de ouvir a todos, e não apenas alguns sempre prontos a lisonjeá-lo. Mas o objectivo destes processos participativos não há-de ser principalmente a organização eclesial, mas o sonho missionário de chegar a todos.
32. Dado que sou chamado a viver aquilo que peço aos outros, devo pensar também numa conversão do papado. Compete-me, como Bispo de Roma, permanecer aberto às sugestões tendentes a um exercício do meu ministério que o torne mais fiel ao significado que Jesus Cristo pretendeu dar-lhe e às necessidades atuais da evangelização. O Papa João Paulo II pediu que o ajudassem a encontrar «uma forma de exercício do primado que, sem renunciar de modo algum ao que é essencial da sua missão, se abra a uma situação nova».[35] Pouco temos avançado neste sentido. Também o papado e as estruturas centrais da Igreja universal precisam de ouvir este apelo a uma conversão pastoral. O Concílio Vaticano II afirmou que, à semelhança das antigas Igrejas patriarcais, as conferências episcopais podem «aportar uma contribuição múltipla e fecunda, para que o sentimento colegial leve a aplicações concretas».[36] Mas este desejo não se realizou plenamente, porque ainda não foi suficientemente explicitado um estatuto das conferências episcopais que as considere como sujeitos de atribuições concretas, incluindo alguma autêntica autoridade doutrinal.[37] Uma centralização excessiva, em vez de ajudar, complica a vida da Igreja e a sua dinâmica missionária.
33. A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral: «fez-se sempre assim». Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades. Uma identificação dos fins, sem uma condigna busca comunitária dos meios para os alcançar, está condenada a traduzir-se em mera fantasia. A todos exorto a aplicarem, com generosidade e coragem, as orientações deste documento, sem impedimentos nem receios. Importante é não caminhar sozinho, mas ter sempre em conta os irmãos e, de modo especial, a guia dos Bispos, num discernimento pastoral sábio e realista.
Notas ao texto da Evangelii Gaudium
[20]João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de Dezembro de 1988), 32: AAS 81 (1989), 451.
[21]V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, Documento de Aparecida (29 de Junho de 2007), 201.
[22]Ibid., 551.
[23]Carta enc. Ecclesiam suam (6 de Agosto de 1964), 10-12: AAS 56 (1964), 611-612.
[24]Conc. Ecum. Vat.II, Decr. sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, 6.
[25]Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Oceania (22 de Novembro de 2001), 19: AAS 94 (2002), 390.
[26]João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de Dezembro de 1988), 26: AAS 81 (1989), 438.
[27]Cf. Propositio 26.
[28]Cf. Propositio 44.
[29]Cf. Propositio 26.
[30]Cf. Propositio 41.
[31]Conc. Ecum. Vat.II, Decr. sobre o múnus pastoral dos Bispos na Igreja Christus Dominus, 11.
[32]Cf. Bento XVI, Discurso por ocasião do 40° aniversário do Decreto «Ad gentes» (11 de Março de 2006): AAS 98 (2006), 337.
[33]Cf. Propositio 42.
[34]Cf. câns. 460-468; 492-502; 511-514; 536-537.
[35]Carta enc. Ut unum sint (25 de Maio de 1995), 95: AAS 87 (1995), 977-978.
[36]Conc. Ecum. Vat.II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 23.
[37]Cf. João Paulo II, Motu proprio Apostolos suos (21 de Maio de 1998): AAS 90 (1998), 641-658.
Missão, diálogo profético. Artigo de Rosino Gibellini
A missão é diálogo profético. A missão como "diálogo" expressa o estilo da escuta das culturas a serem evangelizadas, embora não seja suficiente e deva ser integrada com a profecia, para falar abertamente e anunciar o evangelho da salvação.
A análise é do teólogo italiano Rosino Gibellini, doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e em filosofia pela Universidade Católica de Milão, em artigo publicado no blog Teologi@Internet, da editora Queriniana, 20-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Pouco antes do Natal, a editora Queriniana recebeu a bela visita do teólogo norte-americano Stephen Bevans, autor (com Roger Schroeder) da obra Teologia per la missione oggi. Costanti in contesto [Teologia da obra para a missão hoje. Constantes em contexto] (Ed. Queriniana, 2010, BTC 148).
Bevans é um grande missiólogo, professor da Catholic Theological Union de Chicago. É um dos grandes amigos norte-americanos de Chicago da editora Queriniana, junto com Robert Schreiter (da mesma Theological Union de Chicago) e David Tracy (da Divinity School de Chicago), que colaboraram com a obra Prospettive teologiche per XXI secolo [Perspectivas teológicas para o século XXI] (Ed. Queriniana, 2003; segunda edição de 2006, BTC 123).
Bevans esteve presente em Bréscia na sede da revista MissioneOggi dos xaverianos para ilustrar o seu mais recente livro Dialogo profetico. La forma della missione per il nostro tempo [Diálogo ensaio profético. A forma da missão para o nosso tempo] (Ed. EMI de Bolonha, 2014), em que ele aprofunda a categoria de "diálogo profético" como categoria de síntese da complexidade da missão cristã no mundo.
A categoria nasceu no Capítulo Geral dos verbitas, que se interrogava sobre o que é a missão hoje. Os missionários indianos sublinhavam que a missão na Ásia é diálogo, enquanto, para os missionários da América Latina, a missão é profecia contra as estruturas de opressão que geram pobreza.
Chegou-se à síntese, afirmando que a missão é diálogo profético. A missão como "diálogo" expressa o estilo da escuta das culturas a serem evangelizadas, embora não seja suficiente e deva ser integrada com a profecia, para falar abertamente e anunciar o evangelho da salvação.
Com referência ao grande livro sobre a missão do teólogo sul-africano David Bosch, Bevans escreve no seu novo livreto: "O missiólogo sul-africano David Bosch fala da missão feita segundo um estilo de autêntica vulnerabilidade e humildade, mas também da missão feita com 'audaz humildade' ou com 'humilde audácia'. Nós não temos o monopólio do amor e da misericórdia de Deus, quando oferecemos o evangelho. Assim como conhecemos apenas em parte, mas conhecemos. E acreditamos que a fé que professamos é verdadeira e justa, e que deve ser proclamada'' (Dialogo profetico, p. 67).
Essas expressões comedidas do missiólogo Bosch evoluirão na conceitualidade e na prática do "diálogo profético".
Na Antologia del Novecento teologico [Antologia do século XX teológico] (Ed. Queriniana, 2011, BTC 155), eu inseria também algumas páginas da obra de Bevans/Schroeder, Teologia para a missão hoje. Constantes em contexto, introduzindo-as com estas palavras, que definiam o conceito de "diálogo profético" (p. 322):
O século XIX, sob o perfil da história do cristianismo, foi definido como o século missionário; o século XX, o século ecumênico; e o século XXI, em que entramos há pouco tempo, é proposto como o século de um cristianismo mundial, em que o eixo se desloca do Norte para o Sul do mundo, como documentam as obras do historiador britânico-americano, teórico da "Igreja global", Philip Jenkins.
Isso envolve "mudanças de paradigma na missiologia", como propôs o missiólogo sul-africano David Bosch em A transformação da missão (1991); livro que teve uma sequência na obra dos missiólogos norte-americanos Bevans e Schroeder em Teologia para a missão hoje. Constantes em contexto. A missão é apresentada com os termos de "diálogo profético", expresso em três pontos:
1. A Igreja cristã é missionária, porque Deus – com o envio do Filho e do Espírito Santo – é missionário. A missão da Igreja está enraizada na missio Dei (expressão de Karl Barth que remonta a 1932);
2. A missão vai além do conceito de salus animarum e de plantatio Ecclesiae, e se autocompreende mais amplamente como "serviço libertador do Reino de Deus": aqui intervêm as propostas que estão sob o nome de "inculturação" no tempo do multiculturalismo, de "libertação" na brecha entre Norte e Sul do mundo, e de "reconciliação" no contexto da globalização.
3. A missão, além de fundação trinitária, e a orientação ao Reino devem manter evidenciada a conotação cristológica no tempo do pluralismo religioso, de "anúncio de Jesus Cristo salvador universal", "constantes" a serem mantidas na pluralidade do "contexto" linguístico, antropológico, cultural e social.
Carta de Dom Adelar Baluffi aos Jovens Missionários
Caros jovens missionários e missionárias
"Uma fé que não é solidária ou está doente ou está morta", disse o Papa em sua recente visita ao Paraguai. É a fé viva em Jesus Cristo que vocês têm que os move até Porto Alegre para esta Semana Missionária, de 20 a 26 de julho. E como Jesus Cristo vive em vocês, vossa fé se concretiza na compaixão e solidariedade. Vocês representam todos os jovens de vossas dioceses, os jovens de nosso Estado. Esta vivência missionária é, como que, ícone da presença e missão dos jovens em nossas comunidades e paróquias.
Quero partilhar com vocês dois pensamentos. Primeiro: ir ao encontro das pessoas com alegria e com o coração generoso. Viver intensamente e saborear interiormente cada momento da missão. A missão pede a totalidade da vida: inteligência, coração, energias, tempo. Sem medo de se entregar. Contagiar com a alegria de quem se encontrou com o Senhor e quer comunicá-lo, sem querer convencer ou converter o outro. Ter a consciência que é o Espírito Santo que age e faz produzir os frutos.
Segundo: a compaixão. Como o Bom Samaritano, fazer-se próximo. Deixar-se afetar pelo sofrimento do outro. Curvar-se para oferecer auxílio. Ouvir mais do que falar. “Às vezes sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor. Mas Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros.” (EG 270), nos diz o Papa. E falando da compaixão, nos diz: “As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade” (Misericordiae Vultus, 15).
Enfim, permitam que esta semana suscite muitos questionamentos para vossas vidas e para a vossa missão na Igreja. Levarão, ao retornar para suas dioceses e grupos, este dinamismo missionário, de “uma igreja em saída”. Temos certeza que será uma missão que trará bons frutos para nossa juventude católica gaúcha.
Despeço-me invocando a bênção de Deus sobre todos vocês. Ide, sem medo, para servir.
Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta
Referencial para a Evangelização da Juventude da CNBB Sul 3