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[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
08.07.2015 | 15:50 | #capelania-e-identidade-crista
[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
O Papa Francisco está no Equador, como parte da visita de oito dias que faz à América Latina. Ele visitará três países: Equador, Bolívia e Paraguai. A visita teve início neste domingo (05) e sua missão é discutir questões sociais e se avizinhar das periferias, com o desejo de manifestar com gestos concretos sua proximidade e solidariedade com os esquecidos do mundo. Francisco percorrerá 24 mil quilômetros neste período. 

Em sintonia com este momento da Igreja e atentos à presença do Papa neste continente, oferecemos três artigos como um convite à reflexão. 

A Capelania disponibiliza primeiramente uma notícia publicada por  National Catholic Repórter sobre este processo protagonizado por Francisco. Em seguida, um texto publicado por El País que aborda o discurso de Bergoglio em suas homilias durante a visita ao Equador. Por último, em consonância com este momento, um artigo publicado pelo jornal Avvenire sobre o II Encontro Mundial dos Movimentos Populares que está acontecendo desde o último dia 07 e se estenderá até dia 09. O encontro acontece em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. A abertura do evento será feita pelo Presidente do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, Card. Peter Turkson, um dos organizadores  e concluirá com o discurso do Papa Francisco, momento importante da visita papal nestas regiões da América do Sul. 

Ambos os textos foram retirados do portal IHU. 
Boa leitura.

No Equador, Francisco pede por liberdade e pela unidade latino-americana

De pé, em meio a um milhão de pessoas reunidas num parque em comemoração ao grito de independência e autodeterminação dado há 200 na América do Sul, o Papa Francisco pediu, nessa terça-feira (7), a união entre os povos da região e pela rejeição de todas as formas de autoritarismo.

Com palavras contundentes dirigidas diretamente ao povo deste subcontinente durante uma missa a céu aberto, o papa relacionou a proclamação cristã da fé com a luta centenária dos equatorianos para acabar com a exploração dos recursos naturais e deles próprios.

A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 07-07-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Em uma homilia centrada na intensa oração que Jesus fez a Deus na noite antes de sua morte – quando orou pela unidade dos seus discípulos e de todos os que eles iriam evangelizar –, o papa convidou os presentes a se unirem nesta oração cristã e a continuarem na luta pela liberdade da América Latina.

“Imagino aquele sussurro de Jesus durante a Última Ceia como um grito nesta Missa”, disse Francisco, mencionando que a celebração estava sendo realizada em um parque em comemoração à Declaração de Independência do Equador, feita em 1809, a primeira do continente na era colonial.

Esta Declaração, disse o papa, “foi um grito, nascido da consciência da falta de liberdade, de estar a ser espremidos e saqueados”.

“Eu gostaria que hoje os dois gritos coincidissem sob o belo desafio da evangelização”, prosseguiu o Papa. “Não a partir de palavras altissonantes, nem com termos complicados, mas que nasça da ‘alegria do Evangelho’”.

“Aqui reunidos à volta da mesa com Jesus, somos um grito, um clamor nascido da convicção de que a sua presença nos impele para a unidade”, disse Francisco.
Com base na noção cristã de unidade na diversidade, o papa disse que a fé “afasta-nos da tentação de propostas unicistas, mais parecidas a ditaduras, a ideologias ou a sectarismos”.

“A proposta de Jesus é concreta: é concreta. Não feita de ideias”, disse ele em seguida à multidão, acrescentando ao seu texto preparado. “É concreta!”, continuou o pontífice, fazendo referência à parábola do Bom Samaritano, onde Jesus diz simplesmente: “Ide e fazei o mesmo”.

Estas palavras de Francisco podem ser interpretadas com um significado especial por alguns no Equador, que levantaram preocupações sobre o governo do presidente Rafael Correa, o qual, dizem eles, tem atuado nos últimos anos de forma autoritária.

Nos dias antes da chegada do papa ao país no domingo, milhares de equatorianos foram às ruas para protestar contra o governo. Eles se reuniram durante a noite para permitir às pessoas que se juntassem à manifestação depois do horário de trabalho, quando bloqueavam ruas e pediam por mudança.

O papa falou na nessa terça-feira (07) no Parque Bicentenário de Quito, onde uma multidão se reuniu para participar de sua segunda missa ao ar livre nesta sua viagem de três dias ao Equador. Muitos passaram a noite no parque, resistindo à chuva e ao frio por uma oportunidade de ver o papa.

Alguns também vieram de países vizinhos, com inúmeras pessoas vindo da Colômbia especialmente para a oportunidade.

Francisco está visitando o Equador como parte de uma viagem que contará também com uma ida à Bolívia na quarta-feira antes de seguir para o Paraguai, na sexta-feira.
O papa também celebrou uma missa para cerca de 1 milhão de pessoas na segunda-feira em Guayaquil, cidade portuária do Equador a cerca de 400 km ao sudoeste de Quito.

As declarações do papa dessa terça-feira estiveram permeadas por um convite a um grito unificado, tanto pela independência regional quanto por um estilo de vida cristão, em que se doa si mesmo livremente.

Embora vivamos “num mundo dilacerado pelas guerras e a violência”, disse Francisco, os cristãos devem trabalhar pela unidade em todos os campos da vida.

“É precisamente a este mundo desafiador, com seus egoísmos, que Jesus nos envia”, disse o papa. “E a nossa resposta não é fazer-nos de distraídos, argumentar que não temos meios ou que a realidade nos supera. A nossa resposta repete o clamor de Jesus e aceita a graça e a tarefa da unidade”.

Ao fazer referência ao legado do parque no final da sua homilia, Francisco disse: “O nosso grito, neste lugar que lembra aquele primeiro grito de liberdade”.

“É tão urgente e premente como o daqueles desejos de independência”, disse ele. “Possui fascínio semelhante, tem o mesmo fogo que atrai”.

O papa, em seguida, falou de uma revolução cristã, exortando os presentes a darem a si mesmos livremente.

“‘Dar-se’ significa deixar atuar em si mesmo toda a força do amor que é o Espírito de Deus e, assim, dar lugar à sua força criadora”, disse Francisco.

“Dando-se, o homem – ou a mulher – volta a encontrar-se a si mesmo com a sua verdadeira identidade de filho de Deus, semelhante ao Pai e, como Ele, doador de vida, irmão de Jesus, de quem dá testemunho”, disse ele.

“Isto é evangelizar, esta é a nossa revolução – porque a nossa fé é sempre revolucionária – este é o nosso grito mais profundo e constante”, completou.

Após a missa em Guayaquil na segunda-feira, Francisco voltou a Quito para se reunir com o presidente Rafael Correa e para visitar a catedral da cidade.

O encontro entre o papa e o presidente durou cerca de uma hora e foi realizado em privado. Os dois líderes saíram da reunião sorrindo e cumprimentaram, juntos, a multidão na famosa Praça Grande, de Quito.

Em entrevistas antes da visita do papa, equatorianos expressaram preocupações principalmente sobre a decisão de Rafael Correa de permitir a extração de recursos minerais em uma reserva natural internacionalmente reconhecida na fronteira do país com o Peru.

A visita de Francisco continuou na terça-feira à tarde com duas reuniões: uma com alunos da Universidade Católica da cidade e outra com membros de grupos da sociedade civil.

Um dos participantes destas reuniões disse esperar que o papa aproveite a oportunidade para falar sobre as famílias equatorianas que optaram pela emigração, mas que foram mortos ou desapareceram.

William Murillo Vera
, ex-ministro do governo equatoriano e que agora atua como porta-voz para 109 famílias que se encontram nessas condições, disse que espera receber, pelo menos, uma pequena bênção para repassar às famílias.

“Estas famílias nunca perderam a fé, nunca”, disse Murillo, que falou também que a maioria dos familiares ficaram para trás ao tentar entrar nos EUA. “Uma bênção do papa, que é o que estou pedindo. Assim, pelo menos eu posso dar a essas famílias um pequeno sinal de esperança”.

A visita do Papa Francisco ao Equador também incluiu uma série de toques pessoais comoventes.

O Papa almoçou com uma comunidade jesuíta em Guayaquil na segunda-feira e, no final da tarde, fez uma aparição não programada no lado fora da nunciatura apostólica de Quito, onde ele está hospedado, para desejar à multidão reunida uma boa-noite.

O papa também tem usado uma cruz de madeira pastoral especial durante suas missas, a qual o porta-voz do Vaticano Federico Lombardi, disse ser uma réplica de uma cruz feita para ele por um grupo de prisioneiros italianos.

“Nossa fé é revolucionária”, afirma Papa Francisco

O papa Francisco aproveitou a celebração de sua segunda missa no Equador no parque do Bicentenário – construído sobre o antigo aeroporto de Quito – para unir o velho grito de independência com o da evangelização, que, “com a mesma urgência” a Igreja precisa empreender.

Segundo Jorge Mario Bergoglio, os cristãos não podem se fazer de “distraídos” em meio a “um mundo dilacerado pelas guerras e a violência”. Diante de mais de um milhão de pessoas, o papa clamou: “Evangelizar é nossa revolução. Nossa fé sempre é revolucionária. Esse é o nosso mais profundo e constante grito”.

A reportagem é de Pablo Ordaz, publicada por El País, 07-07-2015.

Tão logo iniciou a homilia, Francisco pronunciou uma frase que entusiasmou os presentes, entre os quais estava o presidente do Equador, Rafael Correa: “Este [o da independência] foi um grito nascido da consciência da falta de liberdades, de estar sendo espremidos e saqueados, submetidos a conveniências circunstanciais dos poderosos de turno”. A partir daí, Bergoglio articulou um discurso que incluiu o principal ingrediente da casa: estender ao restante da humanidade sua mensagem aos cristãos.

O Papa, que na segunda-feira celebrou a missa em Guayaquil e depois visitou Correa à tarde no palácio do Governo e saudou os fiéis congregados diante da catedral de Quito, construiu uma hábil homilia que, sem sair do canônico, também era um chamado à revolução pacífica. “A aquele grito de liberdade proferido há pouco mais de 200 anos”, disse Bergoglio”, “não faltou convicção nem força, mas a história nos conta que só foi contundente quando deixou de lado os personalismos, o afã de lideranças únicas, a falta de compreensão de outros processos libertários com características distintas, mas nem por isso antagônicos”.

O uso por Francisco de conceitos como revolução e utopia provocam urticária nos setores mais conservadores da Igreja, que engolem sua frustração por um subversivo vestido de Papa diante do qual se mostram os mais poderosos da Terra.

Discurso subversivo
E talvez por isso mesmo – pela força que chega a ele dos milhões de pessoas que já reuniu no primeiro dos três países latino-americanos que visitará até domingo –, Bergoglio insiste na ideia de um cristianismo que não se mova pelo medo do inferno, mas pela alegria de compartilhar os ensinamentos de Cristo ao restante da população.

“Nós também”, explica”, “constatamos todos os dias que vivemos em um mundo dilacerado pelas guerras e a violência. Seria superficial pensar que a divisão e o ódio afetam somente as tensões entre os países e os grupos sociais”. Segundo o Papa, eles são a consequência de um “individualismo difuso” provocado pela ausência de Deus. Como voltou a repetir em Quito, sua receita de evangelização não é excludente: “A imensa riqueza do que é variado, do múltiplo que a unidade alcança cada vez que trazemos à memória aquela quinta-feira santa, nos distancia da tentação de propostas mais próximas a ditaduras, ideologias ou sectarismos. Não é tampouco um arranjo feito à nossa medida, no qual nós impomos as condições, escolhemos os integrantes e excluímos os demais”.

O fórum social do papa: ''Os movimentos populares sacodem as consciências e os governos''
 
"Terra, casa e trabalho. Direitos sagrados. Bens primários. O encontro dos movimentos populares que, nos dias 7 a 9 de julho, será realizado em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e concluirá com o discurso do Papa Francisco, colocará essa problemática no centro e será um momento importante da visita papal nestas regiões da América do Sul." Para o cardeal ganense Peter Turkson, presidente do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz que, em conjunto com a Pontifícia Academia das Ciências Sociais, colaboram com a realização desse evento, trata-se de um fato especialmente significativo neste momento para a América Latina.

A reportagem é de Stefania Falasca, publicada no jornal Avvenire, 06-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A reunião dessas organizações populares formadas por campesinos, catadores, trabalhadores precários, migrantes, agricultores sem-terra, moradores das periferias urbanas e em assentamentos informais, coordenada pelo advogado argentino Juan Grabois, é uma sequência ao primeiro e inédito encontro com os diversos delegados dessas realidades de marginalização realizado no Vaticano em outubro passado.
Um fato notável, "sem precedentes", que já foi comentado positivamente pelos diversos líderes que participaram da reunião vaticana e se preparam para viajar para a Bolívia nos próximos dias.

Em Santa Cruz de la Sierra, a cidade industrial por excelência da Bolívia, eles serão mais de 1.500, a maioria provenientes do Brasil e da Argentina, mas também do Chile, Costa Rica, Colômbia, Haiti, República Dominicana, México, Equador, El Salvador, com cinco delegações dos Estados Unidos, duas de Itália, quatro da Índia e duas do Quênia.

Os delegados, incluindo o brasileiro João Pedro Stédile, histórico coordenador do Movimento dos Sem-Terra, agradeceram a Francisco pelo seu acompanhamento e pela sua proximidade "não só em relação aos que sofrem a injustiça, mas também em relação àqueles que se organizam e lutam para superá-la".

"O primeiro encontro foi fortemente desejado pelo papa, por causa do seu conhecimento pessoal dessas realidades e de alguns dos seus líderes na Argentina", explica o cardeal Turkson. "E, naquela reunião, com clareza, ele expressava o seu desejo e o seu projeto, antecipando alguns dos motivos da sua encíclica."

Francisco enquadrou o evento, a sua natureza e os seus objetivos com estas palavras: "Este nosso encontro não responde a uma ideologia (…) Não é possível abordar o escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção que unicamente tranquilizem e convertam os pobres em seres domesticados e inofensivos".

"Este nosso encontro – continuava o papa – responde a um anseio muito concreto, algo que qualquer pai, qualquer mãe quer para os seus filhos; um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos com tristeza cada vez mais longe da maioria: terra, teto e trabalho. É estranho, mas, se eu falo disso para alguns, significa que o papa é comunista. Não se entende que o amor pelos pobres está no centro do Evangelho. Terra, teto e trabalho – isso pelo qual vocês lutam – são direitos sagrados. Reivindicar isso não é nada raro, é a doutrina social da Igreja."

"Queremos que se ouça a sua voz, que, em geral, se escuta pouco", disse ainda Francisco, porque perturba, incomoda e porque se tem medo da mudança que ela exige.
"Para nós – destaca o presidente da Justiça e da Paz – foi muito importante ouvir esses grupos para compreender as causas da multiplicação dos excluídos no mundo e para entender a sua perspectiva de solução das diversas situações. Nós não os convidamos aqui para ´que nós instruíssemos, educássemos ou formulássemos soluções para eles. Ouvimos o que eles têm a dizer, e, assim, também se tratou de reconhecê-los como protagonistas, promovendo a rede dos contatos entre os diversos grupos que nos leva agora a esse segundo encontro na Bolívia."

E, nesse contexto, o que ele quer significar? "No contexto desta viagem, ele serve principalmente para despertar. Para despertar os governos e as consciências. Por que há tantos cidadãos que, apesar da presença de estruturas e de um governo democrático, encontram-se nessa situação de marginalização? Por que se amplia esse fenômeno da exclusão? E por que, então, há espaço para esses movimentos? Devemos nos perguntar isso. Devemos fazer essas interrogações com clareza."

O que a Igreja pode fazer? "A Igreja, em primeiro lugar, ouve essas pessoas, porque é chamada para estar atenta à realidade das pessoas e, por isso, acompanha esses grupos são um sinal de resgate da própria dignidade. O nosso convite – explica o cardeal - é a não se resignar. Se alguém se encontra na situação de estar sem casa, sem terra e sem trabalho, não pode se resignar, não pode dizer 'este é o meu destino', porque esse não é o destino de ninguém. Todos fomos criados com a vocação para o desenvolvimento."
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