Em coerência com as novas “linhas gerais de atuação” da Capelania buscamos proporcionar ocasião de se refletir sobre questões atuais relevantes, tanto no âmbito eclesial quanto em nível da sociedade como um todo. Dando sequência a esta proposta, e continuidade ao convite à reflexão da semana passada (23/07), abordamos novamente o conflito entre Israel e a Palestina, a partir de dois textos. O primeiro é A carta dos soldados israelenses que se recusam a lutar em Gaza, que quando divulgada citava pelo menos 630 palestinos mortos [hoje mais de mil, segundo dados das equipes de resgate palestinas da tarde deste sábado, desde o início da ofensiva israelense, há cerca de três semanas] e do outro lado, 31 israelenses, dois deles civis [até agora 37 soldados e três civis].
O outro, sob o título Somos chamados a dizer: ‘Basta’ em Gaza, afirmam igrejas americanas, traz presente a carta enviada ao presidente Barack Obama pelas igrejas-membro do Conselho Mundial de Igrejas – CMI nos Estados Unidos.
Aceite nosso convite à reflexão!
A carta dos soldados israelenses que se recusam a lutar em Gaza
O serviço militar israelense é obrigatório para homens e mulheres. Movimentos de resistência são comuns. O primeiro caso conhecido é de 1954, quando um advogado, Amnon Zichoroni, pediu para ser dispensado por ser pacifista. Em 2004, cinco pessoas foram condenadas a um ano de prisão por não se alistarem.
A reportagem é de Kiko Nogueira e publicada por Diário do Centro do Mundo, em 24-07-2014.
Em março, sessenta jovens entre 16 e 19 anos escreveram um manifesto destinado ao primeiro ministro Binyamin Netanyahu em que diziam recusar o alistamento pois se opunham à ocupação dos territórios da Palestina. Agora, são 51 soldados que se levantaram contra as Forças de Defesa, alguns deles na reserva.
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Eles escreveram uma carta aberta no Washington Post explicando os motivos. O texto chega no momento em que a violência recrudesce na Faixa de Gaza, com a possibilidade cada vez mais remota de um cessar-fogo nas próximas horas. Até agora, pelo menos 630 palestinos morreram e 3 mil estão feridos. Mais da metade são civis. Do outro lado, 31 israelenses tombaram, dois deles civis.
A carta é um documento eloquente sobre a tragédia e oferece uma visão da mentalidade das forças armadas israelenses. Para os signatários, o exército usa métodos de regimes opressivos contra a população de Gaza e da Cisjordânia e perpetua as desigualdades na sociedade israelense.
Em Israel, a guerra não é apenas a política por outros meios — ela substitui a política. Israel já não é capaz de pensar em uma solução para um conflito político exceto em termos de força física; não admira que seja propenso a ciclos de violência mortal que nunca terminam. E, quando os canhões disparam, nenhuma crítica pode ser ouvida.
O exército, uma parte fundamental da vida dos israelenses, também é o poder que governa os palestinos que vivem nos territórios ocupados em 1967. Desde que ele passou a existir em sua estrutura atual, somos controlados por sua linguagem e mentalidade: dividimos o mundo entre o bem e o mal, de acordo com a classificação dos militares.
Os militares têm um papel central em todos os planos de ação e propostas discutidas no debate nacional, o que explica a ausência de qualquer argumento real sobre soluções não-militares para os conflitos de Israel com seus vizinhos.
Os palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza são privados de direitos civis e direitos humanos. Eles vivem sob um sistema legal diferente de seus vizinhos judeus. Isto não é culpa exclusiva dos soldados que operam nesses territórios. Muitos de nós servimos em funções de apoio logístico e burocrático; lá, descobrimos que todo militar ajuda a implementar a opressão aos palestinos.
Muitos soldados que trabalham longe de posições de combate não resistem porque acham que suas ações, frequentemente rotineiras e banais, não têm relação com os resultados violentos em outros lugares. E as ações que não são banais — por exemplo, decisões sobre a vida ou a morte de palestinos tomadas em escritórios a quilômetros da Faixa de Gaza — são confidenciais, portanto é difícil um debate público sobre elas. Infelizmente, nós nem sempre nos recusamos a cumprir as tarefas que nos foram encarregadas e, desta maneira, contribuímos também para a violência.
O lugar central do militar na sociedade israelense, e a imagem ideal que ele cria, serve para apagar a cultura e a luta dos mizrachi (judeus cujas famílias são originárias de países árabes), etíopes, palestinos, russos, ultra-ortodoxos, beduínos e mulheres.
Há muitas razões para as pessoas se recusarem a servir no exército israelense. Mesmo que tenhamos diferenças de formação e motivação, nós escrevemos esta carta. No entanto, contra os ataques a aqueles que resistem ao serviço obrigatório, apoiamos os resistentes: os alunos do ensino médio que escreveram uma declaração de recusa, os ultra-ortodoxos que protestam contra a nova lei de conscrição, e todos aqueles cuja consciência, situação pessoal ou econômica não permitem que sirvam. Sob o pretexto de uma conversa sobre a igualdade, essas pessoas são obrigadas a pagar o preço. Não mais.
“Somos chamados a dizer: ‘Basta’ em Gaza”, afirmam igrejas americanas
É chegada a hora de os Estados Unidos condenar o bombardeio israelense a centros civis e o bloqueio da mesma forma como tem condenado os lançamentos indiscriminados de foguetes por parte do Hamas e de outros grupos militantes palestinos a Israel, dizem as igrejas-membro do Conselho Mundial de Igrejas – CMI nos Estados Unidos em carta enviada ao presidente Barack Obama.
A reportagem foi publicada pelo World Council of Churches, em 23-07-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A carta escrita pelas igrejas no dia 22 de julho ressaltou que a recente escalada do conflito na região não pode ser dissociada do contexto mais amplo das ocupações de terra.
“Para se alcançar uma paz duradoura, a ocupação israelense de terras palestinas, incluindo o cerco a Gaza, deve acabar. Os Estados Unidos devem, pois, dar término à ocupação e fazer um levantamento das prioridades do cerco a Gaza para a nossa política externa na região”, diz o texto.
Esta carta escrita pelas igrejas americanas junta-se a outras vozes cristãs que pedem por um fim imediato à violência na
Faixa de Gaza. “Na medida em que esta situação continua a se deteriorar e que mortes e destruição horrendas se somam em
Gaza, somos chamados a dizer: ‘
Basta’”, afirmam os líderes das igrejas.
Na carta, dizem também que a ajuda militar a Israel cria uma pesada obrigação moral aos EUA em garantir que este auxílio não esteja sendo usado em violação das leis dos Estados Unidos e dos direitos humanos. Ao afirmar que o conflito entre Israel e a Palestina pode-se resolver com o fim das ocupações por parte de Israel dos territórios palestinos, as igrejas pedem ao governo americano para ajudar a “parar a atual violência e o uso da influência e peso diplomático americano no intuito de pressionar por uma paz justa que vá beneficiar a todas as pessoas da região”.
As igrejas signatárias da carta incluem as que participam do CMI; os Ministérios Globais da Igreja Cristã (Discípulos de Cristo) e a Igreja Unida de Cristo, o Escritório de Justiça Social da Igreja Cristã Reformada, a Igreja Unida de Cristo, Ministérios da Justiça e Testemunho e a Igreja Metodista Unida, o Conselho Geral de Igreja e Sociedade, a Comissão de Serviços da American Friends, Comissão de Amigos para Legislação Nacional, bem como a Conferência dos Superiores Gerais, o Escritório Maryknoll para Assuntos Globais, o Comitê Central Menonita dos EUA, a Pax Christi Internacional e as Irmãs da Misericórdia da Equipe de Justiça Estendida das Américas.
Noutra carta endereçada ao secretário de Estado americano
John Kerry, a
Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos manifestou preocupação com a situação na
Faixa de Gaza. A carta reiterou um apelo do
Papa Francisco em que fala sobre o ciclo de violência na
Terra Santa e pede aos líderes políticos para “não pouparem orações nem esforços para pôr fim a toda e qualquer hostilidade e para buscarem a desejada paz para o bem de todos”.