/ Notícias / [Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
23.10.2015 | 19:15 | #capelania-e-identidade-crista
[Convite à Reflexão] - Capelania UCPel
A Capelania aborda nesta semana o tema do Sínodo dos Bispos sobre a Família. Disponibilizamos primeiramente a reportagem  de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 22-1-2015, com tradução de Isaque Gomes Correa. O cardeal indiano Oswald Gracias  é um dos dez prelados responsáveis pela elaboração do documento final do Sínodo e afirmou que o documento “não vai ter todas as respostas, mas terá uma direção”.

Em seguida, oferecemos uma entrevista com a opinião do teólogo italiano Andrea Grillo, professor do Pontifício Ateneu S. Anselmo, de Roma. Segundo ele, a verdadeira diferença não está entre quem defende a indissolubilidade  e quem a nega, mas entre diversas formas de tradução da doutrina evangélica sobre o matrimônio”.

Por ultimo, apresentamos a entrevista com o cardeal  Walter Kaspez, sob o titulo “Sim, é uma ação contra o Sínodo. Alguns não gostam do papa” Kasper aborda as contraposições presente na reunião sinodal. 

Boa leitura e reflexão. 


Cardeal: O documento final do Sínodo não traz respostas, mas interrogações

 
Um dos dez prelados responsáveis pela elaboração do documento final do Sínodo dos Bispos sobre a família deste ano disse que, embora o texto possa não dar soluções a todas as problemáticas debatidas no encontro, ele dará uma boa orientação ao Papa Francisco em suas decisões futuras.

A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 22-1-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

O cardeal indiano Oswald Gracias disse que o documento “não vai ter todas as respostas, mas terá uma direção”.

“As interrogações estarão claras”, disse Gracias, ao conceder uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira (22 de out.). “Já as repostas não estarão tão claras assim”.

O arcebispo indiano está ajudando a elaborar o documento final do Sínodo 2015 que, desde o dia 4 deste mês, tem visto cerca de 270 prelados debaterem uma ampla gama de temas que as famílias e a Igreja enfrentam na atualidade.

Entre alguns tópicos polêmicos que se sabem estarem em discussão estão a postura da Igreja para com as pessoas gays e a sua prática de proibir que os fiéis divorciados e recasados participem da Comunhão.

Em resposta a uma pergunta feita durante a coletiva sobre o que escreve o Papa João Paulo II a respeito desta proibição, em sua encíclica Familiaris Consortio, de 1981, Gracias falou que o falecido pontífice também escreveu sobre a forma como pessoas diferentes encaram circunstâncias diferentes “não colocando todo mundo no mesmo barco”.

Ao trazer um exemplo de um divórcio onde um dos parceiros abandona o outro injustamente, o cardeal declarou: “Não podemos tratar os dois da mesma maneira”. A questão, segundo ele, é determinar como tratar os dois de forma adequada.
“A teologia progride – a doutrina permanece a mesma – e a nossa compreensão da disciplina eclesial também progride”, disse Gracias.

“Eu acho que nós ainda estamos no caminho de buscas, o Sínodo inteiro”, falou o cardeal. “O que para mim é maravilhoso é que, pessoalmente, estou muito feliz de que houve uma tal diversidade de opiniões entre coisas diferentes”.

“É assim que nós podemos trocar ideias e produzir algo benéfico para todos; é assim que podemos crescer e sermos capazes de ver o caminho a seguir, com todos tendo condições de respeitar a opinião dos demais, sabendo que se está sinceramente tentando encontrar uma forma de poder ajudar as nossas pessoas”, continuou o prelado.

“Não acho que encontramos as soluções”, disse ele. “Mas, pelo menos, começamos a falar sobre o problema e vimos que precisamos abordar tais e tais casos, que precisamos estudá-los”.

“Na medida em que nos aprofundarmos em nossa compreensão, estou certo de que encontraremos uma saída”, disse Gracias.

“O líder indiano estava falando no momento em que o Sínodo se aproxima de sua conclusão, após três longas semanas de deliberações. A sua equipe terminou uma primeira versão do documento final na quinta-feira pela manhã, que deve ser apresentado aos demais prelados no mesmo dia à tarde.

O cardeal disse que os bispos terão a maior parte da tarde desta quinta-feira para ler e estudar o texto, antes de se reunirem de novo na sexta-feira pela manhã para discuti-lo em sessão aberta. Na ocasião, poderão apresentar, para consideração, emendas ou alterações no texto.

A votação final do documento deve ocorrer no sábado pela manhã. Gracias disse esperar que a assembleia vote o texto, parágrafo por parágrafo, e, depois, como um todo.

Perguntado pelo National Catholic Reporter a respeito da extensão do texto, o cardeal falou que, atualmente, ele contava com menos de cem parágrafos.
“Tivemos em mente continuamente o que se encontrava no pensamento do grupo em geral”, falou o cardeal sobre o processo de redação. “De forma muito clara, nós não estamos tocando na doutrina. O Sínodo não está fazendo doutrina. Mas está, realmente, vendo o que é a abordagem pastoral, quais diretrizes que podemos dar!”.

“A nossa intenção é apresentar o documento ao Santo Padre no sábado como um resultado de nossas reflexões”, disse. “E, depois, ele irá levá-lo adiante. É o que esperamos”.

“O texto apresenta orientações realmente gerais”, segundo Gracias. “Ele não entra em aspectos muito específicos”.

Gracias também falou brevemente sobre uma sugestão dada por alguns dos pequenos grupos de discussão no Sínodo sobre a forma como a Igreja poderia alterar a sua prática para com os católicos divorciados e recasados. Atualmente, tais pessoas não têm a autorização de participar na Eucaristia a menos que tenham recebido as respectivas anulações de seus casamentos anteriores.

Ao menos dois dos 13 pequenos grupos – um grupo de língua italiana e o único grupo falante de língua alemã – sugeriram que a Igreja pode ter condições de usar o que se chama “foro interno” para autorizar que pessoas recasadas participem da Eucaristia, o que seria feito individualmente, casa a caso, após buscarem orientação, aconselhamento e, então, obtendo permissão dos sacerdotes ou bispos.
“Com certeza, uma solução envolvendo um foro interno é uma possibilidade que teremos de estudar”, disse o cardeal.

“Essa ideia (…) não é novidade”, disse ele, antes de se referir a um sacerdote redentorista e renomado teólogo moral que nem sempre esteve em voga no Vaticano.

“Bernard Haring, o teólogo moral, propôs isso a muitos e muitos anos atrás”, disse Gracias. 


"Não se pode reduzir a doutrina à disciplina medieval. É preciso profecia." Artigo de Andrea Grillo

 
A verdadeira diferença não está entre quem defende a indissolubilidade e quem a nega, mas entre diversas formas de tradução da doutrina evangélica sobre o matrimônio.

A opinião é do teólogo italiano Andrea Grillo, professor do Pontifício Ateneu S. Anselmo, de Roma, do Instituto Teológico Marchigiano, de Ancona, e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Giustina, de Pádua.

O artigo foi publicado no jornal Il Foglio, 20-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

No Sínodo que se abriu no dia 4 de outubro passado, está acontecendo uma passagem decisiva para a Igreja pós-conciliar: ela diz respeito não ao debate entre quem é favorável e quem é contrário ao matrimônio indissolúvel, mas sim à questão de como se pode e se deve assegurar à indissolubilidade uma disciplina eclesial adequada.

O problema, ao contrário, é: "Como se traduz a doutrina em uma disciplina"? Sobre essa tradução, as ideias são legitimamente diferentes. Com serenidade, portanto, se deveria reconhecer que há uma clara comunhão sobre a doutrina fundamental e que, ao contrário, há disparidade de perspectivas sobre o modo com que essa doutrina deve ser traduzida em disciplina.

A verdadeira diferença, portanto, não está entre quem defende a indissolubilidade e quem a nega, mas entre diversas formas de tradução da doutrina evangélica sobre o matrimônio.

Por um lado, de fato, observamos a posição rígida daqueles que reivindicam que a doutrina possa ser traduzida apenas na disciplina medieval e moderna, que se expressou quase somente com uma terminologia jurídica e que identifica – de forma bastante brutal – as palavras de Jesus com o "matrimônio ratificado e consumado".

Há aqui um defeito de teologia, uma redução do plano teológico à norma jurídica que é bastante alarmante. A partir dessa leitura, que fala uma linguagem apenas "normativa" e que é pensada e testada em um mundo que não existe mais, decorre que a doutrina é identificada com uma única disciplina possível. Ou, melhor, ela é tão reduzida a ela que toda variante disciplinar – por menor, mais temporal ou mais local que seja – é imediatamente suspeita ou acusada de "negar a doutrina".

As posições extremas, nesse campo, já levantaram a suspeita de que a "reforma do processo canônico" recém-realizada pelo Papa Francisco é, nos fatos, uma negação da doutrina da indissolubilidade. Essa opção, mesmo sem o conhecimento daqueles que a defendem, de fato, anula toda evolução histórica e não consegue considerar que, no plano do desenvolvimento da cultura eclesial, na permanência da mesma doutrina, a disciplina matrimonial sofreu muitas modificações, ampliações, restrições, reformulações ao longo de séculos.

Por outro lado, colocam-se aqueles que, escoltados pela experiência secular da Igreja, sabem que à mesma doutrina podem corresponder disciplinas e traduções diferentes. A essa consciência levou-nos a grande temporada conciliar, que nos autorizou a "traduzir a tradição".

O "princípio pastoral" do Vaticano II está todo aqui: reconhecer-se não só habilitados, mas também obrigados e necessitados de traduzir a tradição. Tal consciência sabe que há uma tradição sã e uma tradição que, ao contrário, merece ser revista e reconsiderada. Que a salvaguarda positiva da "família unida" encontra força e impulso – e não freio e obstáculo – na misericórdia exercida para com as "famílias ampliadas". Que as "famílias fiéis", diante da misericórdia eclesial exercida para com as "famílias pródigas", não poderão se comportar como o irmão mais velho da parábola do Pai misericordioso. Que a "lei", como qualquer lei, não é apenas "pedagogia de deveres", mas também "reconhecimento de direitos".

E chama muito a atenção que, em toda essa arte das distinções, são justamente os juristas e os canonistas que hoje estão particularmente em crise. Foi a ciência canônica que sempre operou distinções muito sutis, ao longo da história, e hoje nos deparamos no Sínodo com pastores canonistas que não conseguem sugerir uma única distinção convincente e que se refugiam em posições indistintas, ideológicas e fundamentalistas. Que, para salvar o sacramento, não hesitam em desfigurar as existências e a reduzi-las ao seu passado, sem poderem considerar presente e futuro. Criam, assim, uma espécie de sacramentum contra homines, não propter homines.

Mas nem todos os juristas são assim. De fato, no grande corpo eclesial, há teólogos e pastores que, trabalhando também com essas benditas distinções jurídicas e dogmáticas, começaram a configurar o estilo eclesial do futuro, quase como profetas da Igreja que virá.

Como acontece nesses casos, um bom caminho a se percorrer é o da "analogia". Usando a analogia é possível sair dos baixios das oposições e encontrar uma mediação prudente, adequada e, ao mesmo tempo, corajosa e profética. Prudência e profecia, não raramente, se identificam. Depois, há circunstâncias particulares da vida, até mesmo na vida da Igreja, em que a imprudência máxima é permanecer imóveis.

Há dois argumentos "por analogia" que merecem uma grande atenção no atual debate sinodal: uma analogia ocidental foi proposta por Dom Jean-Paul Vesco; uma analogia oriental, por outro lado, foi levantada por Basilio Petrà.

Na primeira, o modelo consiste em uma singular harmonia entre a melhor teologia medieval e o direito penal contemporâneo, com uma síntese genial e promissora. Recuperando um conceito mais amplo de indissolubilidade – não referida ao sacramento eclesial, mas à relação natural – e reformulando o adultério como "ofensa instantânea" (e não permanente), seria possível operar, no plano formal, uma reconciliação de muitas situações que hoje vivem uma substancial condição de "excomunhão". Antigo e novo aqui estão a serviço de uma melhor inteligência da verdade do matrimônio. Um bispo que não se esquece de ter sido advogado parece muito mais convincente do que um arcebispo que se reduz a ser advogado.

Na segunda, o modelo é a "economia" da tradição greco-ortodoxa, adequada e convertida à lógica da Igreja latina, que permitiria que se considerasse o "fracasso do vínculo", em analogia com a morte do cônjuge, como uma realidade que a Igreja pode reconhecer, com procedimento oportuna e em determinadas condições, mediante a sua própria estrutura jurídica e judicial. Neste caso, Oriente e Ocidente, oportunamente calibrados, se ajudam mutuamente para enfrentar as realidades da vida familiar em mudança.

Essas são reformulações da disciplina que, sem negar, de fato, a doutrina, oferecem uma tradução prática dela, capaz de prestar ouvidos às famílias de hoje e de falar também com o mundo das "famílias ampliadas", sem ser forçado a considerá-las "para sempre adúlteras" (exceto, depois, paternalisticamente, "acolhê-las", mas apenas como adúlteras).

A partir desse precioso reservatório de "analogias", poderiam vir aqueles recursos linguísticos, relacionais e conceituais que seriam capazes de superar a rigidez que bloqueia a Igreja na absurda alternativa entre verdade e caridade, entre justiça e misericórdia. Se uma verdade não gera caridade, não é a verdade cristã, mas uma degeneração enrijecida sua; se uma justiça não é capaz de ampliar a experiência de misericórdia, mas só sabe restringi-la e mortificá-la, aparece simplesmente como uma disciplina injusta que deve ser reformulada, traduzida e repensada.

Precisaremos de toda aquela paciente fidelidade que não dispensa jamais a coragem, nem mesmo uma certa audácia. Mas uma coisa é certa: sem profecia, não haverá prudência.


Sim, é uma ação contra o Sínodo. Alguns não gostam do papa.

Entrevista com Walter Kasper

"Veja, uma coisa eu posso dizer com certeza: condicionar o Sínodo não é possível. Se alguém quer fazer esse jogo, não vai conseguir: é um jogo que nós não fazemos." O cardeal Walter Kasper, do qual tudo começou – foi ele a quem Francisco confiou em 2014 o discurso introdutório –, está junto à Porta Sant'Anna. Já estamos quase lá. Os 270 Padres sinodais subdivididos em 13 círculos aprovaram os seus relatórios, uma comissão está tentando fazer a síntese, no sábado se votará "e, depois, se entregará esse texto ao papa: será ele quem vai decidir e escrever, depois do Sínodo, um documento seu".

A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 22-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Eminência, o jornal L'Osservatore Romano escreve que o momento escolhido, nos dias mais delicados do Sínodo, "revela a intenção manipuladora da poeira levantada". Você teve essa impressão?

Eu não posso saber de nada, mas é provável que se queira ter feito uma ação de perturbação. Um pouco como a história daquele padre polonês no início do Sínodo, como ele se chama...

Charamsa? Aquele que disse ter um companheiro há anos?
Sim. Todos entenderam qual era a intenção, mas dissemos entre nós: não nos deixemos manipular. E isso não teve nenhum efeito sobre o Sínodo. Será assim também neste caso.

No Vaticano, disseram: querem confundir as ideias...
Mas todos vemos isso, o papa também, todos os dias, e eu lhe garanto que ele certamente não dá a impressão de estar doente: ele está sempre em movimento, cheio de energia. No máximo, ele trabalha demais!

Outras vezes já se tentou condicionar. Por quê?
Porque certas pessoas estão nervosas e agora olham com apreensão para o resultado do Sínodo, dentro e fora. Além disso, alguns não gostam desse papa, isso me parece evidente. Talvez tentaram nos influenciar: mas nós fazemos o nosso trabalho, o papa está em boa forma. É uma tentativa vã.

O relatório em alemão denuncia as "declarações públicas" e as "comparações ofensivas" de "alguns Padres sinodais". O cardeal Marx disse que ele se referia a uma entrevista em que o cardeal Pell contrapunha no Sínodo as teologias de Kasper e de Ratzinger.

Sou grato pela atenção ao meu círculo, mas quando falaram sobre isso eu estava ausente.

Ser considerado oposto a Ratzinger lhe entristeceu?
É desleal envolver o Papa Bento XVI nas questões do Sínodo. E, depois, com Ratzinger, nos conhecemos há mais de 50 anos! Sempre cooperamos, até mesmo durante o seu pontificado... Houve também posições diferentes, mas isso é normal na teologia: Tomás de Aquino e Boaventura defenderam coisas diferentes, e ambos são santos!

A busca da contraposição indica nervosismo?
Sim, mas sobretudo tende a dividir a Igreja. O Sínodo é caminhar juntos. Assim, ao contrário, se divide a Igreja entre dois polos. E eu não quero que isso: como cardeal, não se pode querer uma divisão.

O círculo alemão incluía, dentre outros, você e o cardeal Müller, prefeito do ex-Santo Ofício, e vocês sempre votaram com unanimidade...

Sim, e houve uma boa colaboração entre Müller e eu, nunca houve a ruptura que alguns pensavam. Espero que se possa ir na direção indicada pelo nosso círculo.

Para os casos "difíceis", como os divorciados e recasados, vocês propuseram uma solução inspirada em Tomás de Aquino: a aplicação dos princípios "com inteligência e sabedoria em relação às situações individuais muitas vezes complexas".

Certo: ninguém quer tocar a doutrina. É uma coisa pastoral, disciplinar. Para a admissão aos sacramentos, olha-se para a consciência da pessoa, para o "foro interno", indica-se a autoridade do bispo. É preciso distinguir as situações individuais, é claro, ninguém quer uma solução generalizada para todos.
Compartilhe:

Leia Mais
EU FAÇO
A UCPEL.
E VOCÊ?