Na busca de ser um serviço à comunidade acadêmica e fomentar a discussão e reflexão de temas sociais, a Capelania da UCPel disponibiliza dois textos. Primeiramente, uma entrevista com Nancy Cardoso Pereira: Palestina e Israel: caminhos para uma paz justa e na sequência O conflito entre Israel e Palestina, ambos publicados na Revista IHU On-line.
O conflito em Gaza teve o dia mais sangrento neste domingo (20/07), com pelo menos 87 palestinos mortos em ataques israelenses, a grande maioria na mesma área.
Para compreender o que está acontecendo no Oriente Médio, é importante deslocar o olhar para fora do tema religioso do conflito entre judeus e palestinos, defende Nancy C. Pereira.
Para o povo do Ocidente muitas vezes é um desafio compreender todos os meandros envolvidos no conflito entre Palestina e Israel. Segundo ela, trata-se de um conflito por território. “Os desacertos dessa região combinam elementos do imperialismo europeu do século XIX com os desastres do conflito e da resolução dos conflitos da segunda guerra mundial”.
A política de “partição” da Palestina respondia e responde aos interesses geopolíticos dos norte-americanos na região.
Para Nancy Pereira, "superar o senso-comum e a desinformação é vital para um entendimento abrangente do quadro de conflito Israel – Palestina".
Thamiris Magalhães apresenta uma série de respostas dadas à questão das origens do conflito (sejam econômicas e geopolíticas, ou religiosas e culturais), pelos entrevistados da edição 408 da Revista IHU on-line, ano de 2012.
Em 2014, com a intensificação de ataques por parte de Israel ao povo palestino, as entrevistas mostram-se atuais e esclarecedoras.
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Palestina e Israel: caminhos para uma paz justa
É importante deslocar criticamente o olhar para fora do tema religioso do conflito entre judeus e palestinos, defende Nancy Cardoso Pereira
Por: Graziela Wolfart
Para o povo do Ocidente muitas vezes é um desafio compreender todos os meandros envolvidos no conflito entre Palestina e Israel. Em função disso, a professora Nancy Cardoso Pereira nos ajuda nessa missão, pois “superar o senso-comum e a desinformação é vital para um entendimento abrangente do quadro de conflito Israel-Palestina”. Segundo ela, trata-se de um conflito por território. “Os desacertos dessa região combinam elementos do imperialismo europeu do século XIX com os desastres do conflito e da resolução dos conflitos da segunda guerra mundial”. Na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line ela explica que “a ocupação ilegal da Palestina pelo Estado de Israel revela a cara mais explícita do antigo colonialismo e combina novas formas de neocolonialismo. Interesses externos mobilizam a política interna no que pode ser considerado, também, um ponto avançado de controle do ocidente sobre o oriente”. E continua: “este caráter persistente do colonialismo europeu do século passado, articulado com as tecnologias de controle de território modernizadas do ocidente sobre o oriente, faz da Palestina um ponto de inflexão geopolítico delicado e explosivo”.
Palestina e Israel: caminhos para uma paz justa é o tema do evento IHU ideias do dia 30 de agosto, com a professora Dra. Nancy Cardoso Pereira, do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – Cebi; Eduardo Minossi de Oliveira, graduado em Geografia pela UFRGS e Érico Teixeira de Loyola, graduado em Direito pela UFRGS. O evento será realizado na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU, das 17h30 às 19h.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Do ponto de vista didático, o que é fundamental para o povo do Ocidente entender o conflito entre Israel e Palestina?
Nancy Cardoso Pereira – É importante deslocar criticamente o olhar para fora do tema religioso do conflito entre judeus e palestinos. O conflito religioso está emaranhado nos conflitos entre cristãos europeus e comunidades judaicas na Europa do século XIX e às políticas de assimilação e gueto. No âmbito da construção do Estado-nação, a presença de um povo-nação conturbava politicamente o cenário. As comunidades judaicas na Europa sofreram muitos processos de violência e discriminação antes mesmo das políticas nazistas da segunda guerra mundial. Os “judeus” foram exportados para uma outra terra, “seu lugar”: a Palestina. Essa retomada de certa compreensão bíblica e sua teologia de “terra-povo-Deus” se juntou ao pragmatismo de setores do judaísmo e incrementou as levas de migração de judeus para a Palestina. Mas a Palestina já estava ocupada, habitada. Foram séculos de presença árabe majoritária convivendo em paz com a comunidade judaica minoritária, até 1936. Assim, do ponto de vista didático, nós precisamos estudar história. Entender que o colonialismo europeu deixou sequelas terríveis na África, no Médio Oriente e na América Latina também. As divisões artificiais de Estados nacionais que foram impostos sobre maiorias ainda hoje repercutem na forma de conflitos localizados. Em 1948, os ingleses deixaram a administração da região da Palestina para a Organização das Nações Unidas, que acolheu a decisão do presidente norte-americano Harry Truman , determinando a divisão da Palestina em duas metades. Duas metades... desiguais! Os palestinos, que somavam 1.300.00 habitantes, ficaram com 11.500 km² e os judeus, que eram 700.000, ficaram com um território maior (14.500 km²), apesar de serem em número menor. Essa política de partição respondia e responde aos interesses geopolíticos dos norte-americanos na região. O enclave pró-americano tem papel importante nas relações com o mundo árabe.
Controle do Ocidente sobre o Oriente
É um conflito por território. Os desacertos desta região combinam elementos do imperialismo europeu do século XIX com os desastres do conflito e da resolução dos conflitos da segunda guerra mundial. A ocupação ilegal da Palestina pelo Estado de Israel revela a cara mais explícita do antigo colonialismo e combina novas formas de neocolonialismo. Interesses externos mobilizam a política interna no que pode ser considerado, também, um ponto avançado de controle do ocidente sobre o oriente. O modelo de interpretação que me parece mais adequado é o do Apartheid, na África do Sul. Como na África do Sul os assentamentos israelenses na Palestina expulsam a população indígena, cerca de dois terços dos palestinos estão fora de suas terras ou segregados no que restou dos acordos de 1948 e as sucessivas guerras de ocupação. Todas as formas políticas de defesa de território pela população palestina vem sendo considerada terrorista, e os mais básicos direitos humanos não são reconhecidos. A questão é o controle da terra e da água e das formas de ocupação do território como em outras partes do mundo. Mas este caráter persistente do colonialismo europeu do século passado, articulado com as tecnologias de controle de território modernizadas do ocidente sobre o oriente, faz da Palestina um ponto de inflexão geopolítico delicado e explosivo. Inflexão porque desloca os horizontes “locais” de afirmação de processos autônomos dos povos e internacionaliza o conflito inviabilizando processos de resolução.
Superar o senso-comum e a desinformação é vital para um entendimento abrangente do quadro de conflito Israel-Palestina.
IHU On-Line – Quais os pontos que você pretende abordar em relação ao tema “Palestina e Israel: caminhos para uma paz justa”? O que entende por “paz justa” aplicada a essa relação entre as duas regiões?
Nancy Cardoso Pereira – A paz justa reúne dois elementos vitais na compreensão do conflito e no encaminhamento das propostas de resolução: não há uma saída militar para o conflito, mas também a ausência de guerra não responde aos reclamos estruturais de justiça no acesso e vivência do território. A saída seria o reconhecimento dos “dois Estados – uma terra – uma capital/Jerusalém”. Muitos acordos internacionais já se pronunciaram a este respeito, mas o Estado de Israel, liderado por uma política de direita, vem inviabilizando qualquer acordo. O Estado de Israel não reconhece a legitimidade das demandas Palestinas, nem os processos das resoluções internacionais de órgãos de diplomacia, nem as interlocuções de outros estados e muito menos as iniciativas de movimentos internacionalistas de solidariedade que são constantemente criminalizados. Alguns vão dizer: “mas os palestinos terroristas querem destruir Israel!”. É verdade também, o que complica o cenário. Mas, neste momento, é o estado de Israel que ocupa ilegalmente territórios palestinos e que age de modo terrorista ao não reconhecer nenhum fórum de negociação. Assim, a proposta da paz justa é uma metodologia utilizada pelas organizações de paz e solidariedade que reconhecem os direitos dos dois povos, mas reconhecem também a injustiça da ocupação israelense. A paz e a justiça precisam se encontrar. Nessa caminhada, muitos grupos de israelenses se manifestam pela paz, pelos direitos dos/as palestinos/as, pelo compartilhamento justo do território e seus recursos, como, por exemplo, a água, questão central nas negociações e conflitos entre Israel, Palestina e Jordânia. Outro ponto é a justiça para os/as trabalhadores/as em Israel e na Palestina. Os/as camponeses palestinos são impedidos de colher suas azeitonas, de circular por estradas, mas o custo da política militar de direita em Israel também pune os palestinos que trabalham em Israel, os imigrantes africanos e outros segmentos. Por isso paz e justiça: urgentes e necessárias.
IHU On-Line – Como você compreende, no contexto atual, o lema do movimento sionista judeu: “a Palestina é uma terra sem povo para um povo sem terra”?
Nancy Cardoso Pereira – Quando o movimento sionista liderou o processo mais intenso de migração para a Palestina, esta não era uma terra sem povo. A população árabe-palestina habitava o território por muitos e muitos anos; e o povo judeu não era um povo sem terra. Era um povo sem terra na Europa. Este lema se apropria de leituras bíblicas fundamentalistas, encobre as políticas coloniais europeias e desconsidera os muitos cenários de disputa da região (romanos, árabes, otomanos, turcos, franceses, ingleses...). O mesmo aconteceu em terras americanas na expulsão e redução de populações nativas, na ocupação e desterro de milhões de africanos/as. A terra não estava vazia. Foi esvaziada pelo modelo de conquista e colonização.
IHU On-Line – Em que situação se encontram hoje os conflitos?
Nancy Cardoso Pereira – Hoje é o estado de Israel que ocupa o território palestino, que continua com a política de assentamentos ilegais, que controla e vigia o território palestino com o muro da vergonha e os check points, que inviabilizam a economia palestina e a circulação livre da população palestina em seu território. Nesse sentido, é pela libertação da Palestina que nos reunimos e nos organizamos. A paz justa não quer o olho por olho. Olho por olho e o mundo fica cego! A paz justa articula gente de boa vontade que se recusa a ser inimiga, mas que sabe ser possível a justiça.
IHU On-Line – Quais os principais desafios que envolvem o espaço aéreo palestino e o exército da Palestina?
Nancy Cardoso Pereira – O Estado de Israel bloqueia qualquer movimento de soberania dos palestinos por terra, ar ou mar. O povo palestino está segregado no que restou de seu território, sem passaporte, sem autonomia. Todas as tentativas de aproximação de grupos de solidariedade são confrontadas – como aconteceu com as flotilhas de solidariedade afundadas no Mediterrâneo.
IHU On-Line – Qual a importância real da interferência dos EUA e do presidente Barack Obama nas recentes negociações de paz diretas entre o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas?
Nancy Cardoso Pereira – As interferências entre as direitas fundamentalistas norte-americanas (de judeus e cristãos) e de fundamentalistas de direita em Israel minam qualquer negociação real de paz. A organização, presença e solidariedade de grupos de direitos humanos, de movimentos de luta pela justiça e a dignidade dos povos é fundamental para desconstruir o senso-comum contra a Palestina e para criar espaços reais e generosos de negociação. A liderança de Barak Obama não tem sido convincente. Também o governo brasileiro deixa a desejar, pois tem uma posição ambivalente: apoia firmemente o reconhecimento do Estado Palestino, vota a favor das demandas palestinas nos organismos internacionais e faz esforços de relações bilaterais no campo econômico e cultural com a Palestina, inclusive recebendo refugiados/as, mas não tem uma política clara de apoio e fortalecimento destas comunidades refugiadas, deixando a desejar na criação de condições objetivas. Além disso, continua com acordos econômicos e – o pior – militares com o Estado de Israel, em especial na área de armamentos e tecnologia de segurança. A indústria militar de Israel tem intensificado sua presença na América Latina, em especial as empresas como Elbit Systems and Rafael, que entraram no mercado e adquiriram subsidiárias no Brasil. Nesse sentido, o Brasil acaba participando do fornecimento de armas que o exército israelense usa para o assassinato de civis e de “execuções extrajudiciais” de palestinos/as. Uma dessas empresas deu a licença para a Taurus produzir os seus rifles Tavor no Brasil. Assim, o Brasil hospeda, recebe e investe em empresas que contrariam todas as normas do direito internacional, uma vez que promovem a ocupação ilegal e desenvolvem tecnologias de controle e opressão da população palestina.
IHU On-Line – Quais as ações do Fórum Ecumênico Palestina Israel, do Conselho Mundial de Igrejas e das diferentes organizações e lideranças cristãs no sentido de contribuir para que uma paz justa se estabeleça na região?
Nancy Cardoso Pereira – O Fórum Ecumênico Israel Palestina – PIEF é uma plataforma das igrejas cristãs ecumênicas com o objetivo de coordenar os seus esforços e iniciativas para uma paz justa na Palestina-Israel. O objetivo é contribuir com o fim da ocupação ilegal da Palestina, em conformidade com as resoluções da ONU, e demonstrar o compromisso inter-religioso de ação pela paz e justiça que serve a todos os povos da região. O PIEF acredita que o diálogo não violento, independentemente da filiação religiosa, são os pilares em torno dos quais a paz, a justiça e a reconciliação podem se consolidar na região. Articulado com o PIEF as igrejas também participam com o programa do EAPPI que organiza e mantém gente solidária por três meses na Palestina como “acompanhantes ecumênicos”. Mais de 1.200 pessoas já participaram do programa que tem uma presença concreta importante na região na defesa dos direitos das populações palestinas. O Brasil já enviou algumas pessoas, mas queremos fortalecer essa possibilidade. Quem responde pelo programa no Brasil é o Conselho Latino-Americano de Igrejas – CLAI.
IHU On-Line – Gostaria de acrescentar mais algum comentário?
Nancy Cardoso Pereira – Aponto duas questões de desafio para os movimentos e pastorais no Brasil:
1 – No ano passado (2011) um conjunto de movimentos sociais e pastorais articulados pela Via Campesina e pela CUT organizaram o I Encontro Nacional de Solidariedade com a Palestina, na Escola Florestan Fernandes, do MST, em São Paulo. Essa reunião articulou e fortaleceu diversas iniciativas isoladas e criou as condições para a convocação do Fórum Social Mundial Palestina Livre, que acontecerá em Porto Alegre de 28 de novembro a 1º de dezembro de 2012. Tais esforços aproximam as lutas no Brasil e as lutas na Palestina e podem criar um processo de convencimento necessário para uma postura política do Brasil mais firme e mais consequente. A realização do Fórum Palestina Livre deve reunir movimentos populares internacionalistas, movimentos de base e governos (locais, estadual e federal). Muitos grupos de direitos humanos em Israel e de rabinos pelos direitos humanos têm demonstrado as possibilidades reais dos processos de luta a partir das bases sociais.
2 – As Igrejas Cristãs da Palestina lançaram um chamado às igrejas em todo o mundo através do documento Kairós Palestina. Esse documento expressa como a comunidade cristã palestina se entende na atual conjuntura irmanada a todos os/as palestinos/as nas situações de dominação, espoliação e violência. O documento é um chamado à solidariedade e também que todas as igrejas, no nosso caso as igrejas no Brasil, se juntem no testemunho e no compromisso aos sofrimentos e esperanças do povo Palestino. Seria muito importante que o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – Conic organizasse uma resposta das igrejas brasileiras a este documento. Seria nosso Kairós Brasil em diálogo ao Kairós Palestina. Esta resposta exigiria de nós o discernimento da fé, o desprendimento do senso-comum dos fundamentalismos cristãos sobre a “terra santa” e uma participação ativa nas muitas formas de solidariedade junto aos movimentos sociais e à comunidade internacional na afirmação da paz justa como mecanismo de resolução do conflito.
Teóloga e filósofa, Nancy Cardoso Pereira é mestre e doutora em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo – Umesp, e pós-doutora em História Antiga pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Ela é pastora da Igreja Metodista. É membro do Palestine Israel Ecumenical Forum (PIEF)/World Council of Churches (WCC) e secretária de Publicações do Centro de Estudos Bíblicos – Cebi, além de assessora de Formação da Comissão Pastoral da Terra – CPT. Nancy Cardoso Pereira foi escolhida em agosto como reitora da Universidade Bíblica Latino-Americana (UBL). A sua gestão vai de 2013 a 2017.
O conflito entre Israel e Palestina
Quando se fala do conflito no mundo árabe, que assola a população de ambos os lados há mais de 50 anos, busca-se entender o que de fato está em jogo. Quais as origens do conflito? Trata-se de uma questão econômica e geopolítica, ou religiosa e cultural? Ou todas elas estão mutuamente implicadas? Os entrevistados desta edição buscam responder à questão.
Por: Thamiris Magalhães
Quais as origens do conflito entre israelenses e palestinos? Seriam elas de natureza econômica e geopolítica, ou religiosa e cultural?
"Com certeza econômica e geopolítica, pois a Palestina sempre foi um território estratégico para os impérios e potências da região. Sua localização fez dela uma importante rota comercial terrestre e marítima. Ela está próxima da Europa, banhada pelo mar Mediterrâneo, e está na porta de entrada para a Ásia fazendo fronteira com a África. Pelo seu litoral sempre entraram e saíram pessoas e mercadorias, e também exércitos. A Palestina era para ser uma nação livre, soberana e independente, com judeus, cristãos e muçulmanos compartilhando o território em paz. No século XIX, época de dominação da Palestina pelo Império Turco-Otomano, surge, na Europa, o movimento sionista"
Marcelo Buzetto, do Setor de Relações Internacionais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST e professor de Geopolítica do Mundo Contemporâneo no curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Fundação Santo André.
"O conflito entre israelenses e palestinos é político e, exatamente por ocorrer no espaço do político, é que engloba a economia, a geopolítica, a religião e a cultura. O espaço do político é o espaço das relações de poder e são essas relações - complexas, múltiplas e em constante mutação – que explicam a realidade (em si uma construção que se manifesta no campo do político) do conflito israelense-palestino"
Silvia Ferabolli, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e doutoranda em Política e Estudos Internacionais pela Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres – SOAS, University of London.
"Precisamos ver o conflito em seu contexto histórico. O movimento sionista, que fazia parte do movimento colonial global, queria desempenhar certo papel e se beneficiar da atitude mental colonial que estava disseminada na Europa. O resultado disso foi a ocupação e colonização de muitos países africanos e asiáticos. Os sionistas queriam ter seu próprio Estado a fim de ter seu próprio mercado para cuidar de seus interesses. Eles acharam a Palestina um alvo fácil, devido ao fato de que muitos judeus têm uma ligação emocional com a Terra Santa e era fácil convencê-los a fugir da perseguição na Europa indo para a Palestina, onde estabeleceram seu próprio Estado a partir da destruição das esperanças e aspirações palestinas. Em suma, o conflito é fundamentalmente político e gira em torno de terra e recursos, mas ele tem algumas outras facetas (religião, cultura, etc.). As causas básicas do conflito se encontram na natureza do movimento sionista, que é excludente e racista e estava (e ainda está) disposto a implementar seu próprio projeto político às custas dos palestinos – os proprietários e habitantes dessa terra"
Rifat Odeh Kassis, força motriz e um dos coautores do documento Kairós Palestina. Foi coordenador geral do Grupo Kairós Palestina desde seu início. Em 2006, publicou seu primeiro livro, intitulado Palestina: Uma ferida sangrenta na consciência do mundo, e, em 2008, foi coautor de um livro intitulado Cristãos palestinos: fatos, números e tendências. Em 2011, publicou seu terceiro livro, Kairós para a Palestina.
"A questão é política em geral, mas com o tempo tornou-se econômica, cultural e religiosa também. A origem do problema foi exportada do Ocidente depois do Holocausto, onde uma nação teve de ser encontrada para os judeus e eles escolheram a minha nação"
Yusef Daher, Secretário Executivo do Jerusalém Inter-Church Center of the Heads of Churches of Jerusalém, em associação com o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e com o Conselho de Igrejas do Oriente Médio.
"As origens do conflito israelense-palestino são principalmente políticas e econômicas. O conflito tem a ver com a terra, o acesso e controle dela, e com os recursos da terra. Tem a ver com direitos nacionais, incluindo o direito à autodeterminação nacional. Por isso, é importante lembrar que esse conflito não iniciou com a guerra de 1948, que é, para os palestinos, o Nakba (Dia da Catástrofe) e, para os israelenses, o Dia da Independência, mas tem raízes históricas que são de natureza geopolítica e econômica"
Viola Raheb, membro de numerosas organizações e comitês de diálogo intercultural e inter-religioso. Publicou numerosos livros e artigos e realizou vários projetos de pesquisa. Começou sua carreira no campo da educação formal e informal em 1995, sendo vice-diretora das Escolas Evangélicas Luteranas da Jordânia e Palestina de 1995 a 1998 e, ao mesmo tempo, chefe do Departamento de Relações Públicas do Centro Internacional de Belém.
"Neste caso, não há 'ou'. Trata-se de um conflito complexo, que teve início no século XIX, quando judeus começaram a imigrar em massa para a Palestina como parte de um nascente movimento nacional judaico. Os palestinos viram isso como parte do colonialismo europeu. Os judeus que adotaram a ideologia sionista sustentavam que estavam “indo para casa”. Quando o mundo ocidental se deu conta do que tinha acontecido durante a Segunda Guerra Mundial, quando seis milhões de judeus foram assassinados pelos nazistas, ele reconheceu as reivindicações judaicas à Palestina, e as Nações Unidas decidiram por uma partição da terra entre palestinos e judeus. Isso colocou os alicerces para o estabelecimento do Estado de Israel, embora o plano de partição jamais tenha sido implementado. A realidade atualmente é que os judeus e os palestinos chamam essa terra de seu país. Hoje, o conflito se expressa em termos nacionais, étnicos, culturais e religiosos, e também há muitas questões econômicas em jogo. Atualmente, Israel controla toda a Palestina histórica, com bolsões de autonomia palestina cercados por postos israelenses de controle militar fronteiriço. Os israelenses judaicos realizaram seu sonho de um Estado nacional, mas não alcançaram a segurança que desejam. Os palestinos continuam não tendo qualquer independência real e também vivem em grande insegurança. Alguns palestinos vivem em Israel como cidadãos, mas sofrem discriminação. Alguns palestinos vivem nos Territórios Palestinos, ocupados por Israel em 1967, e suportam as dificuldades e sofrimentos da ocupação, do sítio e da estagnação. Muitos outros palestinos vivem no exílio, sonhando com um retorno à terra de seus ancestrais"
David M. Neuhaus nasceu em Joanesburgo, na África do Sul. Em 2000, foi ordenado sacerdote católico romano. Em 2009, foi nomeado vigário patriarcal para os católicos de língua hebraica de Israel. E em 2011 passou a ser coordenador da Pastoral entre Migrantes em Israel
* Na imagem, representação da perda de território palestino de 1946 a 2000.