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[Convite à Reflexão] - Capelania
11.06.2014 | 14:57 | #capelania-e-identidade-crista
[Convite à Reflexão]  -  Capelania
Introdução

As vésperas do início da Copa do Mundo no Brasil, a Capelania faz um convite à reflexão disponibilizando dois textos: “A Copa do Mundo dos direitos humanos” e “Entidades preparam agenda de protestos para os jogos da Copa”. O primeiro apresenta um torneio que integra o livro Guia da Copa do Mundo de Direitos Humanos. O leitor é convidado a atribuir os pontos de cada seleção nos enfrentamentos, imaginando qual seria o saldo de gols se os critérios para a vitória fossem o respeito ao meio-ambiente, às minorias, à diversidade étnica e sexual. As partidas estão organizadas de forma idêntica às da Copa do Mundo Fifa. O segundo artigo expõe uma reportagem sobre os possíveis atos de protesto a serem organizados nas cidades-sede em todo o país durante o megaevento.

Aceite nosso convite!

Boa leitura.


A Copa do Mundo dos direitos humanos


Qual a chance de o Brasil ganhar uma Copa do Mundo na qual habilidade no futebol fosse substituída pelo respeito de cada país à justiça e liberdade? Um jogo lançado por um grupo de estudiosos e ativistas de direitos humanos de São Paulo mostra que, nesse campeonato, uma vitória do Brasil seria zebra.

A reportagem é de Ricardo Régener, publicada pelo portal Namu.

O torneio vem no livro Guia da Copa do Mundo de Direitos Humanos, com lançamento previsto para 04 de junho, em São Paulo. No jogo, o placar de cada partida da copa não é definido por bolas que entram na meta. O leitor é convidado a atribuir os pontos de cada seleção nos enfrentamento, imaginando qual seria o saldo de gols se os critérios para a vitória fossem o respeito ao meio ambiente, às minorias, à diversidade étnica e sexual.

As partidas estão organizadas de forma idêntica às da Copa do Mundo Fifa. Depois dos 48 jogos da primeira fase, metade das seleções avança para as oitavas de final, quando começa o "mata-mata". O jogador pode usar as informações sobre o respeito aos direitos humanos em cada país. Os dados foram coletados por instituições como a Organização das Nações Unidas, Anistia Internacional e Repórteres sem Fronteiras, entre outras.

"Não existe um placar pré-definido ou ‘correto’ para cada jogo. É o leitor quem vai avaliar cada índice, fazer as comparações e dar o seu saldo de gols em cada confronto", explica um dos organizadores do guia, Davi Blotta, professor da Escola de Comunicações e Artes e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV), ambas instituições da Universidade de São Paulo.

O Guia recebeu colaborações do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc) e o Coletivo Quilombação, além de ter apoio da Associação Nacional de Direitos Humanos, Pesquisa e Pós Graduação (Andhep) e do NEV.


Brasil perderia primeiro jogo


Se o Brasil é franco favorito no jogo de abertura contra a Croácia, o país europeu ganharia de lavada na Copa dos Direitos Humanos. “A Croácia tem 20 vezes menos homicídios, aproximadamente metade dos índices de desigualdade social e metade das emissões de gás carbônico do Brasil", avalia Blotta, com os dados do Guia em mãos. “Os índices só são parecidos no quesito respeito às minorias".

O Brasil dificilmente chegaria a uma final nessa copa: "Somos um país mediano no respeito a direitos econômicos e sociais, ruins em direitos ambientais", relata Blotta. “Nossos únicos índices elevados estão no respeito à diversidade”.

Caso a seleção canarinho chegasse numa final contra a Argentina, provavelmente veríamos o time de Messi levantar a taça em pleno Maracanã. “Seria uma disputa boa de assistir, mas pesaria em favor dos argentinos a taxa de homicídio muito menor”, argumenta o pesquisador. “Também contaria ‘gols’ a posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): a Argentina é a 45ª, e o Brasil está na 85ª posição".
Já o jogo entre Espanha e Holanda seria um “páreo duríssimo”, segundo Blotta. “A Holanda está um pouco à frente nos direitos econômicos e sociais, mas a Espanha compensa nos direitos civis e políticos.” Os dois times se enfrentaram a final da Copa da África do Sul em 2010, quando a Espanha levou a melhor. A partida se repetirá no dia 13 de junho.

Aproveitando o momento

A ideia para o Guia surgiu no primeiro semestre de 2013, quando o secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke disse em uma coletiva de imprensa que menos democracia é melhor para se organizar uma Copa do Mundo.

“Queremos demonstrar que Copa do Mundo jamais deve ser um motivo para passar por cima da liberdade do povo e da garantia dos direitos humanos”, afirma Dennis de Oliveira, professor da ECA e coordenador político do Coletivo Quilombação, que luta contra o racismo.

Para os autores da cartilha, os organizadores da copa no Brasil demonstraram-se negligentes no combate a violações de direitos, como nos casos de remoção forçada de moradores de comunidades. "A sociedade civil brasileira tem demonstrado que está aproveitando esse momento para colocar em pauta várias questões relacionadas a direitos básicos”, afirma Blotta. “Nosso material faz parte disso."

O Guia da Copa do Mundo de Direitos Humanos não será vendido e ganhará uma versão on-line.

Fonte: Instituto Humanitas (IHU), Unisinos  -  Notícias diárias (05/06/2014)



Entidades preparam agenda de protestos para os jogos da Copa


O país pode assistir a grandes manifestações durante os jogos da Copa do Mundo. Alguns movimentos sociais ainda estão definindo quantos e quais atos serão realizados durante o torneio, mas afirmam que seguirão pressionando o poder público para atender suas reivindicações. O Comitê Popular da Copa, formado por diferentes movimentos sociais, prepara até o início da próxima semana uma agenda com todos os atos a serem organizados nas cidades-sede em todo o país.

A reportagem é de Camilla Veras Mota, Rodrigo Pedroso e Guilherme Serodio, publicada pelo jornal Valor, 06-06-2014.

Em São Paulo, o comitê marcou atos para os dias 16 e 19/06. No primeiro será organizado um jogo de futebol; no segundo, um ato conjunto com o Movimento Passe Livre. "Nossa ideia é chamar a atenção para o que chamamos de Copa das Tropas. Será o maior efetivo de segurança da história já disponibilizado, o que indica uma fragilidade da democracia", diz Juliana Machado, membro do comitê para a capital paulista.

O comitê também articula possíveis manifestações pelo país em conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que, no entanto, ainda não tem agenda para o torneio. Hoje o movimento fará novo ato em São Paulo, depois de marchar na quarta-feira até o Itaquerão, estádio que vai sediar a abertura da Copa.

No Rio, o primeiro ato dos movimentos contra a Copa será na data de abertura da competição, e está marcado para acontecer na praia de Copacabana, local da Fifa Fan Fest, festa da Fifa para transmissão dos jogos. A praia reunirá ainda o centro de mídia da Copa. Na agenda estão previstos protestos nos dias 22 de junho, 4 de julho e na final, em 13 de julho, todos dias de jogos da Copa no Rio de Janeiro.

A falta de acordo entre governo estadual, prefeitura e categorias em greve no Rio, no entanto, sugere que a cidade verá muitos outros protestos de trabalhadores ao longo de todo o torneio. A promessa de movimentos sociais contrários à realização da Copa também é de uma agenda cheia.

A expectativa dos ativistas anti-Copa do Rio é que os protestos contra a competição ganhem dimensão semelhante às manifestações de junho de 2013. Para isso, prometem articulação com os líderes das diversas categorias.

Na terça-feira, movimentos reunidos em uma articulação chamada Plenária Copa na Rua definiram a realização de ao menos quatro protestos no Rio durante o evento. Ontem, pelo menos três protestos ocorreram na cidade. No fim da tarde, professores, rodoviários, varredores de ruas e servidores em greve reuniram-se em um protesto que contou com mais de 500 pessoas no centro da cidade.

Em outro front de negociação, a prefeitura do Rio enfrenta dificuldades para chegar a um acordo com os sem-teto expulsos em abril de um terreno invadido  - o grupo também protestou ontem. No caso dos sem-teto, segundo a coordenadora estadual do MTST em São Paulo, Natalia Szermeta, a estratégia é seguir pressionando para que o poder público desaproprie áreas ocupadas na capital e no interior até o início do torneio. "Se não atenderem algumas reivindicações com certeza deve ter algo durante a Copa", afirma.

Fora do Rio, as greves e paralisações que mexeram com o cotidiano das grandes cidades nos últimos meses devem diminuir a partir da próxima semana. Com exceção da CSP-Conlutas, as centrais sindicais dizem que suas respectivas agendas de mobilizações devem se estender apenas até o início dos jogos.

Cinco das seis principais centrais sindicais do país disseram ao Valor que já concentraram os protestos nesta semana. Os feriados durante os jogos, afirmam, poderiam esvaziar as mobilizações. "E não somos contra a Copa. Nosso problema é com os gastos excessivos", completa Miguel Torres, presidente da Força Sindical. A central prepara para hoje um ato contra a política econômica do governo em São Paulo. Com concentração a partir de 08h, ele sairá de três pontos na cidade.

A Central Sindical Popular-Conlutas organizará passeata no dia 12, data da abertura da Copa, com concentração às 10h na sede do sindicato dos metroviários de São Paulo, no Tatuapé, zona leste da cidade. O trajeto será definido na hora, por conta dos bloqueios que serão montados no entorno do Itaquerão. "Vamos caminhar até onde a liberdade nos permitir", diz Atnágoras Lopes, um dos porta-vozes da central.

Apesar de poucas ações efetivamente planejadas para o torneio até o momento, a previsão é que as mobilizações ao longo das próximas semanas sejam mais organizadas em relação aos protestos do ano passado, com propostas mais setorizadas. Para Rafael Alcadipani, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) que estuda a relação entre Copa, protestos e segurança pública, é difícil prever qual será o nível de adesão dos atos e a resposta das forças do governo a eles.

Um incidente causado por força desproporcional por parte da segurança pública, ou ocorrências consideradas injustas pela sociedade civil, por exemplo, podem aumentar o número de manifestantes. "O que se vê preparado até agora são grupos organizados de movimentos sociais e sindicatos com pautas mais específicas, bases mais sólidas e menos participantes. Mas a situação é muito dinâmica", afirma.

O professor do departamento de sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), Ruy Braga, faz análise semelhante. Ele acredita que alguns grupos organizados devem aproveitar a visibilidade dos jogos para fazer manifestações a priori pacíficas. A reação da PM poderia catalisar episódios de violência. Depois de meses seguidos de protesto, contudo, a maioria dos brasileiros deve acabar se unindo para torcer durante a Copa, acredita o sociólogo.

O grande contingente formado por Forças Armadas, polícias civil e militar e agentes da Polícia Federal, que vão realizar a segurança do evento esportivo, para o professor da FGV, também inibe simpatizantes aos protestos. "Vai haver um clima maior de medo por causa do grande efetivo policial, que deve gerar mais confrontos".

Pelo lado do planejamento que está sendo montado pela segurança pública para o torneio, Alcadipani vê ênfase excessiva na contenção de protestos e pouca atenção a possíveis brigas entre torcidas em bares, festas e nos arredores do estádio. Espera-se cerca de 20 mil argentinos e 7 mil chilenos, por exemplo. "É aí que eu vejo maior risco. É preciso ressaltar que a maioria dos turistas que vão a uma Copa são homens", diz o professor.

Ruy Braga enfatiza ainda que o novo ciclo de greves pelo qual passa o Brasil não está apenas relacionado à Copa. O movimento, afirma, começou a ganhar força em 2008 e faz parte de um intenso processo de luta distributiva.

Aumento de renda e ascensão social, apontados como principais origens da insatisfação que têm motivado os protestos e mobilizações no Brasil, são para o sociólogo apenas um dos pilares que explicam, por exemplo, porque o nível de greves dos últimos anos tem se equiparado àqueles dos anos 1989 e 1990, quando Collor assumiu a presidência e sequestrou as poupanças. Apesar dos ganhos, que seriam o combustível para a exigência de serviços públicos melhores, por exemplo, a qualidade do emprego e das remunerações não melhorou de forma significativa.

Dos novos postos de trabalho criados no país nos últimos dez anos, 94% pagam menos do que um salário mínimo e meio, afirma o sociólogo. Nesse intervalo, as condições de trabalho se deterioraram "de maneira flagrante" e a especulação imobiliária e o aumento da inflação corroeram o que os reajustes adicionaram aos salários.

As categorias que tendem a se organizar de maneira mais rápida, portanto, são aquelas mais afetadas por esse redesenho do mercado de trabalho e da sociedade  -  os serviços, entre eles os rodoviários e garis que fizeram paralisações nos últimos meses, e o funcionalismo público, que tem protagonizado greves de quase um mês.

A situação que se desenhou no Brasil nos últimos anos, para Braga, em nada se assemelha à história de outras sedes da Copa do Mundo. "Na África do Sul houve reivindicação de canteiro de obra, dos trabalhadores envolvidos na construção da infraestrutura para os jogos. Não houve levantes populares contra a Fifa ou contra o governo", pondera.

Fonte: Instituto Humanitas (IHU), Unisinos  -  Notícias diárias (06/06/2014)




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