Nesta quinta-feira (05), a Universidade Católica de Pelotas (UCPel) deu início ao evento Ditadura em Debate. Ao reunir a comunidade acadêmica em torno do tema, a Capelania procura suscitar a reflexão sobre momentos marcantes da história do Brasil. A primeira mesa redonda do ciclo de debates esteve centrada nas relações que se estabeleceram entre as empresas de comunicação e os generais que ficaram no poder de 1964 até 1985.
O primeiro dos três eixos previstos para serem discutidos - Mídia, Censura e Ditadura – focou em uma das principais preocupações do regime militar: o controle rigoroso não só de todo conteúdo jornalístico, mas das estruturas responsáveis pela veiculação das notícias. Em sua fala, o professor Renato Della Vechia destacou o contexto em que se desenvolveram os principais grupos de comunicação brasileiros, cujo apoio ao golpe militar contribuiu, de forma decisiva, para a sustentação e ampliação desses conglomerados de comunicação.
O caso mais emblemático dessa relação, segundo o docente da UCPel, se deu, no início da década de 1960, quando se efetivou o acordo entre a Rede Globo e a companhia de mídia norte-americana Time-Life - o que, desde 1934, era proibido por lei. “Diversos estudos comprovam o apoio do governo dos Estados Unidos às ditaduras em toda a América Latina, sob o pretexto de um suposto risco de instauração de regimes comunistas nesses países”, lembra Della Vechia.
Integrante do Comitê pela Verdade, Memória e Justiça de Pelotas e região, a historiadora Alessandra Gasparotto chama a atenção para o quanto esta discussão ainda é atual. Na semana passada, o jornal O Globo reconheceu, em editorial, o apoio prestado ao regime militar. Para Alessandra, “o discurso de arrependimento promovido pelo principal grupo de mídia do país não devolve a paz das famílias que perderam seus entes queridos em função dos sequestros, perseguições políticas e torturas promovidos naquela época”.
A pesquisadora lembrou, ainda, que a censura imposta aos veículos de comunicação não alinhados aos militares e a subserviência de jornais como O Globo e a Folha de São Paulo – que, em 2009, referiu-se à ditadura como ‘ditabranda’ – são fatores determinantes para a incursão de um perigoso saudosismo ao regime. “Esse posicionamento pôde ser observado até mesmo nas recentes mobilizações que tomaram conta do país, cujas bandeiras eram difusas”, ressalta.
Os pesquisadores lembraram, no entanto, que a instauração da Comissão Nacional da Verdade, em maio de 2012, é uma resposta lúcida a esse processo histórico, pois a maior parte da sociedade tem apoiado a investigação dos crimes e das violações aos direitos humanos ocorridos durante aquele período.
Mostra fotográfica
Antes de começarem os debates já era possível perceber um clima diferente no saguão do Campus I da UCPel. Na quarta-feira (04), quem passou pelos corredores da Universidade pôde acompanhar a exposição fotográfica promovida pelo Instituto de Estudos Políticos Mário Alves (IMA). As imagens fazem parte do projeto Ponto de Cultura - Memórias em Movimento. De fundo, era possível ouvir uma trilha sonora com canções que denunciam a violência e ressaltam a resistência ao regime.
O ciclo Ditadura em Debate tem programação prevista até o dia 24 de setembro. Confira, abaixo.
Programação
12/09 (Quinta-feira) - Mesa Redonda – Direito, tortura e punição
Comissão da Verdade e a Lei de Anistia.
- Mariluce Vargas – Comitê Memória, Justiça e Verdade.
- Débora Kreuz – Comitê Memória, Justiça e Verdade.
Horário: 19h
Local: Sala 425 C - Campus I
17/09 (Terça-feira) – Mesa Redonda
- Osmar Miguel Schaefer (Filosofia)
- Jandir Zanotelli
- Alceu Salamoni
Horário: 8h30min
Local: UCPel Campus I - Sala 407 E
18/09 (Quarta-feira) - Arte no Saguão
Horário: das 18h às 19h30min
Local: UCPel – Saguão Campus II
24/09 (Terça-feira) - Cine-Debate
Filme: Pra Frente Brasil
Horário: 19h
Local: UCPel – Campus I - Sala 407 E
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