O bispo mártir de El Salvador, Dom Óscar Romero, foi a figura em destaque no encontro Páscoa Latinoamericana, que ocorreu dentro da programação de Páscoa da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Na noite de terça-feira (02), história, teologia e vivência se reuniram para contextualizar a história do homem que foi exemplo de dedicação aos pobres e de oposição ao regime militar salvadorenho.
O momento histórico da América Central do fim da década de 1970 e início da década de 1980, foi trazido pela professora de História Contemporânea da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Caroline Bauer. Na sequência, o capelão da UCPel, padre Rogério Mosimann da Silva, falou sobre o perfil e a trajetória de Dom Óscar Romero.
O encerramento da mesa-redonda teve a participação especial da pedagoga francesa Anne Marie Crosville, que esteve durante a guerra em El Salvador. “O pouco que conheci de Romero me levou a me comprometer com o povo”, contou, de imediato.
Ela, que trabalhara como missionária no México, onde um milhão de salvadorenhos estavam exilados durante a guerra civil, disse ter ouvido a voz “mansa, mas firme” do bispo, que disse: “precisamos de internacionalistas para ajudar meu povo sofrido”. De acordo com Anne Marie, Romero informou que o povo lutava para viver dignamente. E acrescentou: “precisamos de mensageiros nos seus países para contar a verdade”. Poucos meses depois, o bispo foi assassinado.
A pedagoga entrou na zona de combate clandestinamente, inspirada pelo amor que Romero demonstrou pelo povo. Anne Marie foi responsável pela alfabetização do acampamento, composto por cerca de 700 pessoas. Não havia folhas ou lápis e as crianças e jovens combatentes aprendiam o alfabeto desenhado no chão, com galhos de árvore. “Foi uma escola de vida. Não era nada do que se falava, que seriam terroristas. Nunca vi um guerrilheiro faltar ao respeito com outro”, disse ela, que passou dois anos no local.
Anne Marie falou ainda sobre a determinação e o apoio mútuo que o povo tinha, sempre em busca de um sonho que era como a Terra Prometida. “A gente sempre acreditava que Deus estava do nosso lado, do lado dos pobres. Falávamos de Deus no meio dos bombardeios”, lembrou.
Hoje trabalhando no centro que fundou para crianças e adolescentes carentes em Cachoeirinha, a pedagoga segue fazendo o papel que Dom Óscar Romero pediu a ela: que seja mensageira daquilo que o povo viveu.
A mesa-redonda Páscoa Latinoamericana foi promovida pela Capelania e pelos Institutos Superiores de Cultura Religiosa, Teologia e Filosofia da UCPel.