Deixar a casa para trás para preservar a vida é algo difícil para qualquer um. Para um neuro divergente a situação pode ser ainda mais crítica. Foi justamente pensando em amenizar os transtornos causados pela mudança drástica na rotina de crianças e adolescentes PCDs, vítimas da enchente, que foi instituído o abrigo do Cenáculo. No local, cedido pela Arquidiocese e gerenciado pela Prefeitura de Pelotas, professores e alunos da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) prestam atendimento de saúde, realizam escuta e atividades lúdicas.
Emanuele Maycá Soares é aluna do décimo semestre de Psicologia da UCPel e nesta semana aproveitou que estava sem aulas presenciais para levar carinho a quem mais precisa. Ao lado de uma das adolescentes abrigadas, engrenou um longo papo. Os olhares se entrelaçavam e convergiam para a tela do celular em uma animada conversa. Entre uma palavra e outra, surgia o sorriso. “A gente veio hoje para fazer uma escuta, acolher e entender as demandas dessas famílias”, conta a estudante que estava acompanhada de outras colegas e das professoras Rosane Feijó e Brenda Louro.
No espaço, as famílias de crianças ou adolescentes atípicas, têm quartos exclusivos e alimentação produzida pelos integrantes de movimentos ligados à igreja católica. E lá recebem todo o tipo de atendimento. São diversas instituições em prol dos desalojados.
Apoio multiprofissional
Além da Psicologia, médicos residentes da UCPel também se fizeram presentes e prestaram os primeiros atendimentos às vítimas. Nesta semana, alunos e professores da Enfermagem e Odontologia também somaram esforços para auxiliar a comunidade.
O curso de Odontologia optou por falar de saúde bucal de forma lúdica. “Ao invés de fazermos exames, hoje trouxemos joguinhos, balões relacionados à odontologia. O que é bom para o dente, o que é ruim, com a tentativa de desfocar um pouco dessa parte do que eles estão passando e também uma mensagem subliminar. Tentar entrar nesse universo dos atípicos, criar vínculos”, explica a professora Beatriz Bidigaray, que esteve no local junto à professora Sara Karam, coordenando as atividades dos estudantes.
Cândida Rodrigues, professora de Enfermagem da UCPel, sintetiza a importância da universidade dentro do espaço administrado pelo poder público. “O abrigo mantém por 12 horas uma equipe de saúde para avaliar e atender demandas mais urgentes. E é nessa escala que entram os doutorandos, residentes e estudantes das diversas áreas como Enfermagem, Odontologia e Psicologia, apoiando e acolhendo as demandas”, explica a docente.
Mirela Proença, 24 anos, é moradora da localidade Perret, uma das regiões sob alerta de cheia. Mãe de um menino de cinco anos, autista, ela, o filho e seus pais foram uns dos primeiros a se instalarem no abrigo. “Como meu filho tem dificuldades com barulho, achei que seria muito agitado e difícil pra ele, mas não, ele adora. Aqui temos tudo, médico, pediatra, psicóloga. A gente está se sentindo em casa. O espaço, o ambiente é muito bom”, completa.
Como buscar abrigo
Conforme a prefeitura, o espaço é exclusivo para famílias com crianças e adolescentes PCDs. Para acessar o serviço basta ir direto ao local, na avenida Dom Joaquim, 1568.
Como ser voluntário
Todos os alunos da UCPel que quiserem participar das ações emergenciais de ajuda aos desabrigados das enchentes devem preencher um formulário. (https://forms.gle/bK4spDLPFTebrHhM8)
A universidade está presente em diversos abrigos da cidade e em várias frentes de ajuda humanitária.
Redação Débora Borba