Pesquisa realizada desde 2016 pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento (PPGSC) da Católica de Pelotas (UCPel) investiga a condição de insegurança alimentar e o impacto sobre os desenvolvimentos motor e cognitivo em bebês do município.
O estudo, feito pela doutora Caroline Nickel Ávila, sob orientação da professora Luciana de Ávila, é parte do projeto “Gravidez Cuidada, Bebê Saudável”, do PPGSC — coordenado pelo professor Ricardo Tavares Pinheiro e financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates.
Incluindo dados entre o período da gestação e 18 meses após o parto de 469 mães e bebês da zona urbana de Pelotas, a pesquisa mensurou a condição da insegurança alimentar nos primeiros mil dias de vida dos bebês (considerando, nestes, 270 ainda em gestação). Este período constitui uma janela crítica de oportunidades que pode prejudicar o estado de saúde materno-infantil — e configura uma fase primordial para o pleno desenvolvimento das crianças em níveis adequados.
A ser classificada em leve, moderada e grave, — sendo grave quando há uma redução significativa de alimentos no domicílio, podendo que todos os membros da família, incluindo crianças, passem fome — a insegurança alimentar vem atingido dados alarmantes nos últimos anos.
Segundo estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), em 2022 o número de domicílios com moradores passando fome chegou a 15,5% (33,1 milhões de pessoas) em todo o país. Na Região Sul, a insegurança alimentar grave atinge três milhões de pessoas.
Em Pelotas, segundo dados da pesquisa, 32,4% das mães e bebês avaliados viviam em situação de insegurança alimentar no primeiro acompanhamento (durante a gestação), sendo destas 6,8% entre moderada a grave; na quarta etapa (18 meses pós-parto) os números variaram a 30,4% dos domicílios nesta condição, sendo 8,3% de moderada a grave.
A impossibilidade de prover uma quantidade mínima de alimentos, durante tão importante fase, implica em deficiências imunológicas, comportamentais e em uma maior vulnerabilidade biológica infantil devido à escassez de micronutrientes. Além disso, a preocupação e a angústia diante da incerteza de dispor regularmente de alimentos nutricionalmente adequados e seguros para o consumo contribui para o estresse e a ansiedade dos pais ou cuidadores - o que pode afetar a interação com os bebês e dificultar as oportunidades de aprendizagem necessárias para o desenvolvimento adequado.
A pesquisadora reforça o fato de que quanto mais crítica é a condição, pior é o desenvolvimento cognitivo e motor das crianças. “Bebês que residiam em domicílios com insegurança alimentar moderada e grave apresentaram menor pontuação na escala de desenvolvimento em comparação com os bebês na mesma situação em nível leve, por exemplo”, comenta.
Os resultados da pesquisa evidenciam, portanto, que a insegurança alimentar acaba afetando o desenvolvimento dos bebês. Fato que enfatiza a importância do direito à alimentação adequada e da existência de ambientes que forneçam experiências estimulantes para o desenvolvimento infantil. “É necessário que essa pesquisa alcance a população e as autoridades competentes. Estamos fazendo isso a fim de auxiliar a desenhar intervenções e abordagens para tratar esse problema de saúde pública”, conclui Caroline.
Redação: Caroline Albaini