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Convite à Reflexão - Aniversário da UCPel
10.10.2016 | 10:06 | #capelania-e-identidade-crista
Convite à Reflexão - Aniversário da UCPel
"Identidade e missão de uma Universidade Católica na atualidade”

Baseado na Reflexão de Stefano Zamagni (Professor de Economia da Universidade de Bologna, Itália, e Membro da Pontifícia Comissão Justiça e Paz).

I. Dois Conceitos de Identidade:

(a) Algo que herdamos do passado. Implica em dois riscos: o conservadorismo e o “pensamento de grupo” (que desencoraja a criatividade).  

(b) Algo escolhido livremente, necessitando de constante atualização. Articula elementos herdados com propostas inovadoras. Conceito mais dinâmico.

II. Elementos fundamentais da identidade:

a) A geratividade: capacidade de gerar conhecimentos novos na busca da verdade. 

b) Relação de reciprocidade entre estudantes e docentes. A reciprocidade é fundamental para o funcionamento da comunidade acadêmica;

c) O dom como gratuidade ou o princípio do dom. Dom é a relação interpessoal de gratuidade que se estabelece entre doador e pessoa que recebe o dom.

“O típico de uma universidade católica é sua capacidade de se organizar de tal forma que os princípios da geratividade, reciprocidade e gratuidade sejam moldados e aplicados em conjunto”, de forma multiplicativa e não aditiva.

Por que estes três elementos são particularmente importantes?

 A Universidade na Idade Média (c. 1200 D.C.) nasce da distinção entre studium e imperium (o conhecimento e o poder), a busca da verdade e o exercício do poder; busca levar os diferentes tipos de conhecimento a um patamar unificador, que então era a Teologia (ad unum vertere = universidade).

 Na modernidade, numa primeira fase, o studium se torna um elemento indispensável para o exercício do poder, tanto político como militar. A universidade devia produzir conhecimentos úteis ao poder (Estados Nacionais). Um exemplo dado é o da Universidade Humboldt, de Berlim, que elaborava a estratégia militar para ao Reino da Prússia (de Bismarck).  

(Outro exemplo é a universidade de Coimbra, formando a elite administrativa do império português).

  Numa segunda fase, a universidade moderna passa a servir ao poder econômico: a sociedade civil colocou a universidade a serviço do mercado e das finanças.

III. A Universidade na época pós-moderna

 A universidade busca ser cada vez mais funcional para o mercado. Assim a Declaração de Lisboa (2007) põe como meta estratégica aumentar e qualificar a empregabilidade dos estudantes. O estudante se torna um microempresário de si mesmo: compra insumos (saber) e os transforma em produtos para o mercado (vende serviços).

 Nessa visão, a Universidade não necessita ser um lugar de educação, mas de instrução e capacitação; o professor se torna um instrutor, que (em matéria de economia) ensina a lei da oferta e da procura.   A um educador se pede que fale de valores e da dimensão ética do discurso econômico.

 A competição também se estabelece no campo da pesquisa; o vencedor leva tudo, o perdedor fica fora. Professor e aluno competem, não cooperam.

 O mesmo acontece entre os pesquisadores. (O desafio é estimular a cooperação, sem perder o reforço da emulação, por exemplo, entre equipes de pesquisa). (Aqui podemos examinar o significado da incubadora de projetos da UCPel e seu novo sistema de gerenciamento). 

IV. Papel das Universidades Católicas: resgatar a própria ideia da universidade. 

 Propor uma nova educação, entendida como processo de introdução da pessoa ao todo da realidade. Em que os estudantes deveriam ser introduzidos?   Uma Universidade deve propor um projeto em que esses quatro elementos: valores, fins, meios e normas. Deve educar para o uso racional dos meios e o respeito leal das normas, busquem realizar valores mediante o discernimento ético de fins. Aplicando uma lógica da inclusão, não da competição excludente. (Edgar Morin, Ensinar a Viver. Manifesto para Mudar a Educação. Face aos ensinos cada vez mais especializados, diz Morin, “falta a possibilidade de enfrentar os problemas fundamentais e globais do indivíduo, do cidadão, do ser humano”, p. 16). Pensamento complexo e transdisciplinariedade (Morin e P. Flávio).

 Buscar resolver o problema do seu financiamento, preservando quanto possível sua autonomia (diversificar o quanto possível as fontes);

 “O mundo hoje sofre pela escassez de pensamento” (Bento XVI); falta o pensamento que orienta, não apenas o pensamento que calcula.

 Buscar a cultura autêntica: “nova semper quaerere, parta custodire” (S. Ambrósio):  “busca constante de coisas novas, cuidar do  que herdamos”.

 Juntar as asas com as raízes: asas sem raízes levam à superficialidade ou ao aventurismo; raízes sem asas degeneram em conservadorismo.

V. Reflexão sobre a UCPel, a partir das colocações de Zamagni: 

 Que universidade queremos ser, à raiz dos valores da identidade católica?

 Como construir nossa autonomia e sustentabilidade financeira?

 Como articular geratividade, reciprocidade e gratuidade na construção de uma verdadeira educação superior humanizadora?

Reflexão proposta pelo GTIC – Grupo de Trabalho da Identidade Católica, formado pelo Conselho do Instituto Superior de Formação Humanista.

Pelotas, 15.09.2016. -  P. Martinho Lenz, SJ, Capelão da UCPel

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