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Estudo mapeia qualidade de vida de soropositivos da região
Estudo mapeia qualidade de vida de soropositivos da região
Fatores psicossociais de portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV) devem ser avaliados juntamente com fatores físicos e clínicos quando o objetivo é mensurar a qualidade de vida desses indivíduos. A conclusão é da mestranda em Saúde e Comportamento pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) Susane Müller Klug Passos por meio da dissertação defendida nesta quinta-feira (30). Sob o título “Qualidade de vida em pacientes soropositivos de um centro de referência no sul do Brasil”, a pesquisa teve o professor Luciano Souza como orientador.

Susane entrevistou 625 pacientes com idade a partir de 18 anos para identificar fatores relacionados com uma melhor percepção de qualidade de vida entre pacientes do Serviço de Assistência Especializada em HIV/AIDS (SAE), que funciona em Pelotas. Centro de referência para atendimentos do tipo há 14 anos, não só a nível municipal, mas, também, regional, o SAE atende cerca de 3.200 pacientes por ano.

Dos entrevistados, 51,8% eram do sexo feminino e 70,1%, de cor branca. A média de idade foi de 42 anos. A maioria tinha filhos, um trabalho remunerado e pertencia à classe socioeconômica C. Quase metade dos entrevistados relatou um relacionamento estável, com um ano de duração ou mais. Em relação à orientação sexual, 83,1% eram heterossexuais, 11,3% bissexuais e 5,6% homossexuais.

“Conhecer esses pacientes através de uma visão além do plano meramente físico, o que é difícil quando se trata de pessoas cuja patologia exige um complexo e muito atento olhar clínico, certamente contribuirá para qualificar um serviço reconhecido por sua excelência”, comentou Susane.

Considerada por profissionais da área um importante aspecto a ser observado no tratamento de pessoas com HIV, o termo “qualidade de vida” pode ser resumido como um status de saúde que leva em consideração múltiplas dimensões incluindo bem estar social, psicológico, físico e funcional. Segundo os resultados da pesquisa de Susane, a qualidade de vida das pessoas portadoras de HIV/AIDS foi influenciada por fatores que ultrapassam os domínios físico e biológico e se relacionam diretamente com questões econômicas e sociais.

Não foram encontradas associações com carga viral, estágio da infecção, tempo de diagnóstico, abuso ou dependência de tabaco e álcool, modo de contágio, orientação sexual, religião, filhos e cor. Não ter trabalho remunerado e não ter apoio foram duas variáveis associadas com pior qualidade de vida em cinco dos seis aspectos avaliados. Classificação socioeconômica foi relacionada com qualidade de vida em todos os domínios, com piores escores nas classes menos favorecidas.

Ainda segundo o estudo, a maioria dos pacientes entrevistados acredita ter se contaminado por relação sexual e declarou ter conhecimento do diagnóstico sorológico da infecção por HIV há mais de um ano. Mais de 80% preencheu critérios para diagnóstico de AIDS e 29,2% já estiveram hospitalizados alguma vez por complicações relacionadas à infecção por HIV. Quanto à medicação antirretroviral, 81,9% usou alguma vez na vida, sendo que mais da metade dos pacientes relatou ter percebido alguma mudança corporal após o início do tratamento.

Quando questionados sobre sua própria impressão a respeito de sua qualidade de vida, considerando as duas últimas semanas, 48% dos entrevistados responderam que a consideram boa e cerca de 10% responderam que consideram ruim ou muito ruim. Sobre a própria saúde em geral, 57,5% considera-se satisfeito ou muito satisfeito, e 21,1% insatisfeito ou muito insatisfeito.

Fisicamente, os pacientes com pior qualidade de vida foram os com idades entre 36 a 46 anos, com filhos, sem um relacionamento estável e que nunca usaram medicação antirretroviral. No domínio psicológico, os piores escores foram encontrados junto aos soropositvos do sexo feminino, de faixa etária entre 36 e 46 anos e escolaridade até oito anos completos de estudo, sem trabalho remunerado, pertencentes às classes socioeconômicas D e E, sem relacionamento estável, que não têm religião e que nunca usaram medicação antirretroviral. Foram avaliados, ainda, os domínios meio ambiente, espiritualidade, independência e relações sociais.

Com base nestes resultados, o estudo sugere que programas de favorecimento ao acesso à educação e de reinserção dos pacientes no mercado de trabalho sejam fomentados. “O trabalho, mais do que uma fonte de recursos financeiros auxilia a amenizar o estresse da infecção pelo HIV, proporciona oportunidades de socialização e serve para manter uma sensação de qualidade de vida”, destacou a pesquisadora, ao citar, também, a importância do apoio social e afetivo para possibilitar que “esses pacientes enfrentem a doença com menos sofrimento psíquico e melhor adesão ao programa de acompanhamento”.
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